segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Quem quer ser professor?

Postado por Infinito Particular às 16:45 0 comentários

Responda rápido: você queria que seu filho fosse professor? Porque a profissão mais linda do mundo anda tão sem crédito? A culpa também é da gente, não professores, que temos permitido e aceitado o sucateamento da educação. Não pode! Educação é base. Educação é tudo.

Minha mãe é professora, é linda, ganha pouco e é desvalorizada profissionalmente. Quando eu dizia que queria ser professora (toda criança já disse que quer ser professor) ela me desmotivava, não por não amar o que fazia, mas por me amar, amar ao ponto de não querer isso pra mim (acabei sendo jornalista, saiu do sujo pro mal lavado, mas enfim...). Porque ninguém quer ser professor? Porque professor ganhou o status social de uma formiguinha, num mundo cheio de elefantes brancos. Esse assunto é muito sério, porque a gente acaba se perdendo na exaustão dos nossos próprios empregos e sai falando por aí que professor ganha até bem, porque trabalha só meio horário, tem férias escolares... ô covardia! Acho que a gente acaba falando bobagem demais quando nosso próprio calo dói muito no fim do dia.

Mas se nosso calo tá doendo é porque a ignorância tem nos levado a loucuras; é porque um povo que não aprende na escola vai precisar apanhar da vida... Não podemos mais encher o mundo de gerações que tomam as rédeas da sociedade quando ainda está faltando tanto pedaço. Não importa onde seja a mudança, não importa por que ou para quem ela vai acontecer: se for uma mudança social vai ter que começar na escola. “Educai as crianças e não será preciso punir os adultos”. É bem isso aí.

No dia dos professores do ano passado, me lembro que eu estava escrevendo sobre a greve. A greve acabou, mas a luta continua! É sim pra lembrar do dia do professor, mas não é pra esquecer dos dias dos professores, dias sofridos de quem modela, com tão poucos recursos, o barro da sociedade. Vamos aguardar esperançosos o dia em que nossas crianças vão querer ser professores mesmo depois de crescer.

Postado por: Marcela




sábado, 15 de setembro de 2012

O trabalho que a simplicidade dá

Postado por Infinito Particular às 12:41 0 comentários

“Que ninguém se engane: só se consegue a simplicidade através de muito trabalho”. Quem disse foi Clarisse Lispector, mas eu concordo e assino em baixo. A simplicidade é difícil, difícil como tentar fazer alguma coisa exaustivamente, enquanto todos ao seu redor parecem simplesmente não entender.
Digo que a simplicidade é difícil porque tenho tentado ser simples, e posso até dizer- não por falta de modéstia, mas por alívio de estar segura disso - que tenho feito progressos brilhantes. Mas dá trabalho, eu fico cansada, suando bicas, com as mãos frias, com o rosto impávido e penso muitas vezes em desistir.  Ser simples é uma tarefa complexa; e santas sejam as controvérsias que movem esse mundo.
Porque quem não está sendo simples tem um discurso muito seguro do que é importante ou não. Um discurso persuasivo que tem resumidamente o objetivo de tentar fazer você se sentir bobo, ao ser simples. Importante, dizem, são as outras coisas, especialmente as difíceis e improváveis. Importante é o que precisa de muito dinheiro, de um stress fora do comum e de saberes fragmentados que deem uma resposta a perguntas que naturalmente nunca existiriam. Mas isso tudo é uma cilada! Só que você tem que perceber. Você tem que parar de se importar com o que as pessoas fazem ou dizem, e se preocupar só com as coisas certas. (Quem disse foi Bob Marley, e por tudo acho que você deveria dar um crédito aos conselhos dele).
Se preocupar com as coisas certas é focar não nas coisas que dão ibope, que te dão uma espécie de sentimento de autoridade, que te dão o tal do status, mas se focar nas coisas importantes, ora! Você sabe quais são. Todo mundo já soube, mas por não vigiar a simplicidade da alma como um cão guia, esqueceu.
Temos que guardar a simplicidade, cuidar dela, renovar os votos, fazê-la existir quando ninguém está vendo. É preciso não se render ao supérfalo, é preciso negá-lo por vezes. Vamos deixar as rusguinhas de lado, os tititis, os frufrus, os mimos, os nhenhenhéns, vamos negar essas atitudes pegajosas e chatas de tentar complicar o que é simples.
Temos que repetir em voz alta as grandes verdades: as pessoas são livres para gostarem do que quiserem, as coisas que te fazem felizes estão te dando um sinal explícito de por onde seguir, “uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa”(Veríssimo).
Lembre-se que quase tudo pode ser uma grande armadilha social para nos fazer trabalhar intensamente por coisas que no fundo nem mesmo queremos. Não precisamos ser tão indisponíveis, tão importantes e atarefados, as coisas são mais simples! Temos que parar de inventar moda, como diria a minha avó, saiba e simples.
E quando conhecer uma pessoa que consegue ser assim não fuja do sua responsabilidade tentando afirmar que para ela as coisas são fáceis. Ser simples dá trabalho. E é por isso que a gente deveria começar agora mesmo.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Nostalgia bateu ao meio dia.

Postado por Infinito Particular às 09:49 0 comentários
Não se explica, nem se discute. Se é possível ou não, não sei, mas hoje senti o cheiro da minha infância. Um dos sentidos que eu tenho mais aguçado é o olfato, então não há dúvida. Não sei decompô-lo por aromas. Sei que tocava Amor de Índio no meu (fone de) ouvido, enquanto eu encarava as paisagens que corriam diante da janela do ônibus. E, então, a fragrância me encontrou. Ah, que cheiro doce (sem ser enjoativo) do destino que se cumpriu. Quase que instantaneamente meus olhos se fecharam, banhados de água e de lembranças, enquanto meu coração parecia arredar tudo dentro de mim pra encontrar mais espaço dentro do peito, pra bater mais forte. 

Ah, que cheiro! Da saudade de uma época em que eu não distinguia sonhos de realidade: eu, simplesmente, acreditava. E tudo era. Eu era tudo. Era mãe de filhas que tinham quase meu tamanho, e que eram milhões de personagens ao mesmo tempo. Filhas que eu levava pra passear no balanço que até hoje balança na minha casa - pena que eu não caibo mais lá. Que comiam uma comida deliciosa, que eu passava horas cozinhando em panelas que hoje cabem na palma da minha mão. Hm. Era aventureira do pomar da minha casa, e o abacateiro que floresce até hoje (quando quer) era a majestosa arvora de uma selva que eu desvendava sem medo, com meu pai e um cajado esculpido de uma cabo velho de vassoura. Era tão grande, tão perigoso - tão gostoso. Mas meu lado capitalista falava mais alto, e eu gostava das minhas notas de brinquedo, meu dinheiro, ah. Vendia o que tinha na "vendinha", nome que batizou a despensa da minha casa e que a gente usa até hoje. A exemplo da minha mãe, eu era professora. Casa de professora, a estante é de livro (?). Eu abraçava todos, arrumava minha classe, e ensinava o pouco que eu sabia, querendo mostrar pra elas que aquilo já era muito pra mim. Às vezes, eu só ensinava meu nome pra elas, porque meu pai me ensinou a escrevê-lo antes de entrar na escola, todos os dias, um pouquinho mais, um pouquinho melhor. Eu era coreógrafa de grandes musicais. Era atriz, e tinha certeza que seria uma cantora de grande sucesso. Era autora de história de histórias em quadrinhos, da Bia12, e editora da revista Vitrine da Moda. Escrevi meu primeiro livro, Infinito, de poemas e contos que eu escrevia na escola. Guardo tudo isso até hoje. Tinha um programa matinal de receitas, porque eu já acordava cedo pra brincar - não podia perder tempo. E, assim, sem perder tempo, fiz a maior conquista da minha vida: andar de bicicleta sem rodinha. Era espiã. Era design de moda. Era pintora. Era fonoaudióloga (depois que conheci a minha, queria ser igual a ela). E era muito, muito mais.

Hoje, os brinquedos estão lá no quartinho de brinquedos ou ganharam outras casas. A música já acabou. Despertei desse sonho acordada quase perdendo o ponto pra descer do ônibus. Uma última vez, olhei pra mulher que estava usando aquela fragrância doce, deliciosa, que significa um mundo pra mim. Em silêncio, a agradeci - pela escolha do perfume e pela felicidade de hoje. Não sei qual é o nome desse aroma. Só sei que o chamo infância. Um dia talvez descubra, talvez não. Não me importa. Continuarei encantada com essa época em que eu precisava de tão pouco pra ser tudo. E rezo, todos os dias, pra que ela não se perca na minha memória.  

Hoje, o que eu preciso pra ser quase tudo, é papel e caneta. E, graças a Deus, eu tinha os dois nas mãos, no ônibus hoje ao meio dia. Quando me bateu a nostalgia.


"Todo dia é de viver, para ser o que for, e ser tudo."

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A quem o faz com maestria.

Postado por Infinito Particular às 06:52 0 comentários

No ato corriqueiro de virar as páginas de um livro, ou de correr os olhos na crônica do dia, esconde-se um homem. Um homem que é perturbado até mesmo durante a madrugada pelas palavras. Que pontua frases, para pontuar angústias. Rasura tristezas na esperança de transformá-las em sorrisos. Que vê o mundo com elevadíssimo teor poético. Que semeia sonhos, e é paciente em esperá-los brotarem na alma dos leitores. Que impaciente por mudanças, ignora tabus. Que derrama suas ideias, sem se preocupar onde elas podem respingar. Um sujeito, às vezes dito louco, que se atreve a parafrasear a vida. Compartilha sonhos, espalha segredos, diz o que até então parecia indizível. 

Celebra possibilidades infindáveis, inimagináveis e incomparáveis (e poderia me estender por tempos nos adjetivos) apenas pela combinação de palavras. “Ai, palavras, ai palavras, que estranha potência, a vossa!” Citando Cecília Meireles, revelo-me aqui, lembrando a todos que ontem, dia 25 de julho, foi comemorado o Dia Nacional do Escritor.

Não caberiam aqui todas as atribuições que um escritor tem, por isso, nem me atrevo a dizer que o descrevi. Fiz esse texto apenas para agradecê-lo. Agradecer a todos os escritores que escreveram, nem que seja uma palavra na minha vida e me fizeram para pra pensar. Que escreveram e descreveram o que eu não consegui. Que expandiram (e continuam expandindo) minha imaginação. Porque escritor tem nas mãos o dom de manusear, parafraseando Paulo Coelho, a mais terrível e mais covarde arma de destruição: a palavra. 

Pra mim, escritor é desses sujeitos abençoados, capaz de tornar tudo que toca uma fonte de inspiração.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

No dia da amizade

Postado por Infinito Particular às 17:35 0 comentários

Fica a dica: amigo é insubstituível. Status, amores, tristeza, dinheiro de mais ou de menos... isso tudo passa. Amigo fica. Amigos vão e vem, mas ficam, sempre, de qualquer forma. A amizade é aquela coisa linda que a gente tem com outras pessoas. Aquela coisa que, ampliada e generalizada, seria tipo a utopia de sociedade em harmonia que há tanto tempo sonhamos. Como é que se faz sem um amigo? Não me lembro. Acho que nem sei. Desde sempre eu tive os meus. Tantos se foram em marés que não coincidiam mais... mas o ditado já dizia que fica o perfume nas mãos de quem oferece rosas. O perfume da amizade fica, se por um tempo você se permitiu repousar ao lado daquela pessoa e deixar falar a voz do sentimento. Aos meus amigos que já foram, quero que saibam que ainda escuto a voz do coração de vocês. A minha própria voz, ainda sabe seus nomes e seus gostos. Amigo a gente não esquece. Depois surgiram amigos que ficaram, mesmo com as marés da vida puxando a gente pra mares diferentes. É lindo um amigo que fica. É tão lindo, que amo a vida, a vida toda, com suas imperfeições e suas tempestades, só porque tenho amigos que ficam. Fiquem comigo, ok? Que assim está muito bem. Assim eu sei pra onde vou, assim eu sou sol, assim eu sinto a delícia de ser quem eu sou. Fiquem comigo, eu prometo amar vocês pra sempre, eu prometo que esse amor que eu já contei que trago não morre mais, mude o que mudar nessa trama confusa da vida. E amigos, amigos que virão, se acheguem que meus braços estão abertos, venham tranquilos que cabe mais gente no meu bem querer. O sabor de saber que você ainda vai fazer amigos. Já parou pra sentir? É uma delícia particular, é promessa de vida no meu coração. Amigos do futuro, que vocês sejam felizes desde agora, para lá na frente a gente só juntar nossa felicidades e agrupar os meus amigos com os seus amigos e fazer uma festa gigante de alegria e tempo bom! Mas se vocês vierem feridos, eu já chorei também, e sei que amizade cura. Amizade cura! Como um mantra. Como um milagre divino. Amizade cura tudo, cura até dor de amor. Porque se o amor machuca é só mais amor que cura. E a amizade é amor. É um amor que nunca morre. 

domingo, 8 de julho de 2012

Encontros e despedidas

Postado por Infinito Particular às 16:53 0 comentários
O trem que chega é o mesmo trem da partida. Ele segue, claro, as estações mudando, mas o trem é sempre aquele. Mas novo, gente! Porque em cada estação ele chega com um propósito, chega pra um alguém, chega de um jeito. Só que a história dos vagões fica, vai acumulando, com as paisagens do caminho colando na janela, um mosaico que não acaba nunca.

Acho que mineiro é muito inteligente de chamar tudo de trem. Porque tudo nessa vida é mesmo tipo um trem, que avança e vai mudando sem esquecer a viagem que já foi. Tudo é trem, já diziam os sábios mineiros, que comem quietos justamente por serem tão sábios. Estou trem. Desconfio que sempre fui, mas estou num momento importante da viagem. Vou chegar numa próxima estação... estou apitando já para anunciar a novidade, mas, olha ali a linha que não me deixa mentir meu caminho! Vim por aqui, ó! Dá pra ver onde eu passei, se você fizer o caminho inverso ainda vê um pouco da fumaça e das bagagens que eu deixei por aí. Para frente, ainda não sei não... o caminho existe, com certeza, mas só vou saber o que tem lá se eu passar por ele.Quem pode saber antes? O passeio não teria graça. A viagem segue, eu espero. Mas por enquanto vou curtindo as estações. Porque seguir só tem sentido quando eu paro para embarques e desembarques. Eu sei que tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais... tem gente que vai e quer ficar, eu queria ficar! Às vezes até dói seguir viagem... mas é assim não, é? Porque se tem uma coisa que eu gosto é poder partir sem ter planos. E melhor ainda é poder voltar quando quero.

Ah, se soubéssemos a magia do trem; deixávamos de lado os carros que simplesmente chegam, e passávamos a marcar o caminho, como João e Maria, para poder lembrar sempre. Se soubéssemos a magia dos trens embarcávamos na viagem, ao invés de ficar na estação esperando que a vida passe, por medo, medo bobo, de embarcar e ver no que dá. Se soubéssemos teríamos mais vagões, para mais gente, para mais bagagem... e mais estações, para mais desembarques, mais desapegos. Ah se a gente ouvisse o apito, se a gente sentasse na janela sem vidro fumê para curtir a paisagem... Aí eu acho que a vida seria uma senhora viagem. E não só uma plataforma de embarque e desembarque.




segunda-feira, 25 de junho de 2012

Extasia-me, Adélia.

Postado por Infinito Particular às 11:00 0 comentários

Peço licença poética à Adélia. Tentarei abreviá-la, como se fosse algo realmente possível. A verdade é que Adélia me lê, sem nem me conhecer. Encontro-me nas esquinas de seus versos, e poderia ficar ali, por horas, sentada, acompanhada do alento de suas palavras. Admira-me a capacidade de olhar e ver o óbvio que ninguém mais vê. Ver uma beleza, na certa, imprevisível. Contenta-me esse dom, sem melhores palavras, comovente. Dom que fere – num bom sentido. 

Porque poema bom, pra mim, é desses que cerro os olhos, e se abrem trincheiras jamais antes desvendadas em minha mente. Poema bom é esse que celebra a simplicidade em versos - os quais devoro - e que me abrevia em duas ou três rimas. Poema bom é esse que em que me perco na pureza dos sentimentos,  capaz de alimentar minha imaginação insaciável. 
Repito alguns versos, tão simples, mas que não abandonam minha memória.

Registro.
Visíveis no facho de ouro jorrado porta adentro,
mosquitinhos, grãos maiores de pó.
A mãe no fogão atiça as brasas
e acende na menina o nunca mais apagado na memória:
uma vez banqueteando-se, comeu feijão com arroz
mais um facho de luz. Com toda fome.
(Adélia Prado, em “Bagagem”)

 “O facho de ouro jorrado porta adentro” se faz à minha frente, em minha mente. Enquanto minhas pálpebras se fecham com força, consigo vê-la, com fome - e que fome! Fome da mãe. “A mãe no fogão atiça as brasas e acende na menina o nunca mais apagado na memória”. Fome de guardar aquele momento, tão rotineiro quanto único. Tão feijão com arroz, quanto delicioso. Não que eu não considere feijão com arroz um prato gostoso, mas a verdade é que a comida dela tinha um tempero a mais, um tempero que ninguém jamais conseguiria acertar. O tempero das histórias que empoeiravam a cozinha simples. O sabor das memórias que se faziam vivas, tão vivas, que chegavam a pulsar em seu poema. Consegue ver? Consegue ver? Não com os olhos, seu tolo!

Apenas sinta. Sinta. Continue faminto por sentir. Por poetizar o cotidiano. Por é isso que me encanta. E eu estou indo, meu trem mal chegou já está partindo. Vou espalhar essa história. Vou desfrutar de Adélia. Com toda fome. Como uma forma de agradecimento e respeito pela sua arte.

*Deixo-lhe aqui mais uma pitada:
 Verossímil
Antigamente, em maio, eu virava anjo.
A mãe me punha o vestido, as asas,
me encalcava a coroa na cabeça e encomendava:
‘canta alto, espevita as palavras bem’.
Eu levantava voo rua acima.
(Adélia Prado, em “Bagagem”)




Postado por: Jéssica.

sábado, 19 de maio de 2012

Pontuação.

Postado por Infinito Particular às 11:37 0 comentários

Declarei-me poeta.

Pus um ponto final para que perceba minha declaração. E ao final de minha fase incrédula, coloquei outro ponto final.

É preciso sensibilidade para perceber que essa fase, dita em frase, merece um ponto final.

Foi um período enorme de descrença, o qual fui escrevendo, escrevendo, escrevendo, e me perdendo sem entender o que sou.

É difícil se escrever, e botar um ponto final.

Mas então, me incomodei com tantas interrogativas diretas. Os pontos de interrogação já não cabiam sem explicação. As exclamações ao encontro de suas interjeições. Ora! Não me pontue tão grosseiramente. Use cada símbolo delicadamente.

Escrevo, escrevo e depois dos dois-pontos esclareço: sou muito mais do que cabe entre um par de vírgulas, numa oração explicativa. Além disso, sou às vezes, restritiva - vírgulas não cabem aqui. Certos momentos, só separando minhas orações, eu faço sentido.

E jamais, em tempo algum, me separe de minha ação. Sou sujeito que precisa de verbo, e isso vírgula nenhuma pode separar - nem eu nem a gramática podemos aceitar. 

Sou poeta, por isso mereço reticências.

Eu sou poeta...




Postado por: Jéssica

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Sobre a dor e outras coisas

Postado por Infinito Particular às 18:25 0 comentários

Hoje quero falar sobre a dor, e outras coisas. Quero não; preciso. Porque o que dói também é texto, também é pauta e também preenche essa nossa existência no mundo.

Por isso, preciso falar da dor e outras coisas.

Mas vou começar pelas outras coisas. Primeiro as damas. Primeiro o que afaga.

Hoje eu ouvi mais Los Hermanos do que cabia em mim, e isso são as outras coisas. Eu morri de rir com a minha irmã, eu encontrei um amigo no ponto de ônibus. As outras coisas é saber onde cabe meu nome, onde repousam meus sonhos, e ouvir os sonhos do mundo. É ler Pessoa. E gostar. É gostar das coisas, sentir aquele gosto do gostar, aquela pseudo papila gustativa que nossa faz achar coisas não comestíveis simplesmente deliciosas. Hoje eu tive vontade de devorar, de forma carinhosa, algumas coisas (e pessoas) e isso é bem as outras coisas. As outras coisas foi ficar de preguiça esperando só que o minuto seguinte fosse igualmente vazio. Foi dilatar no sol como há muito não fazia, e dormir com a agenda fechada. Foi amar meus amores. Ter amores é as outras coisas – não só, mas também. Amar é saber alguém de muitas formas, e saber alguém é talvez o mais fundo que vamos chegar no conhecimento. Então amar – acompanhem meu raciocínio – é chegar fundo no conhecimento. Filosofar, claro, também é as outras coisas. Pensar em teorias inúteis e acreditar que elas são minhas é, com certeza, bom. Para manter a mente cheia, para forçar os meus neurônios a fazerem algumas ligações a mais – por via das dúvidas, sinto que tenho perdido muitos ultimamente. Mas pensar é essencialmente as outras coisas, então vale o preço. Hoje quis escrever, e quanto me inunda escrever. Escrever é mergulhar de cabeça nas outras coisas – não só, mas também. Escrever é amor. Não é á toa que Rubem Alves diz que escrever é fazer sexo com as palavras. Amor não é sexo, eu sei. Mas mesmo assim. Amor é latifúndio, sexo é invasão, e tudo isso são as outras coisas. As outras coisas é a felicidade, a vida, essa infinidade de pormenores que eu classificaria como alegres. Ah, as outras coisas... o que seria da vida sem elas?

Seria dor, só. Hoje eu precisava falar da dor. Mas não sei bem. Sei que ela existe - que está quase sempre por perto. Mas dizem que ela passa; eu, por experiência, confirmo. E avisam que ela volta; eu, por viver, acredito. Mas não posso dizer mais do que isso sobre ela: ela existe, ela passa, ela volta (e aí passa de novo). Estou achando que a dor é bem resumível.

Mas as outras coisas, eu levaria horas falando sobre elas.  

Postado por: Marcela

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Meu pitaco sobre o caso panicat e sua repercussão

Postado por Infinito Particular às 18:58 0 comentários

O negócio é o seguinte: a brincadeira do Pânico não teve graça. Sem novidades, né? Mas mesmo para quem já extrapolou a margem do bom senso, raspar a cabeça da moça foi de péssimo gosto. Ela, aliás, não sei como fica nessa história. Deve ter recebido para isso. Ou talvez só não tenha sabido escapar da armadilha da mais nova atração da Band.

O outro lado da moeda é que, como tudo nessa rede social de compartilhamento chamada Faceboook, a repercussão da coisa ficou enjoativa. Enjoativa e exagerada. A comparação com o câncer, sinceramente. As variações da revolta realmente encheram a paciência de qualquer um.

MAS o balanço final é que a revolta é precisa, que a revolta é bem-vinda, mesmo piegas, mesmo chata. Por que houve o tempo, minha gente, que a piada sem graça fazia o povo morrer de rir. Fiquei imaginando que seria muito pior se a repercussão pendesse para o outro lado; se a panicat continuasse a ser alvo da brincadeira, e não tema do protesto. Porque mesmo sendo uma panicat, mesmo podendo ela ter recebido por isso, e podendo, com certeza, se recusar a raspar o cabelo (e mesmo considerando o provável fato de que ela vai estar lá, rindo e rebolando, na semana que vem), ainda sim ela era a minoria daquela situação. Era a turma do Pânico de um lado, ela do outro. E se a gente rir da ridicularizarão das minorias, a piada sem graça pode continuar.

É claro que há coisas muito mais importantes no mundo. É CLARO. Tem Brasília, o assalto diário ao nosso bolso. Tem gente fazendo coisa muito mais perversa do que raspar cabelo de panicat. Mas é como a sua mãe te ensinou nos tempos de escola: não é porque seu colega tirou uma nota pior do que a sua que você vai fugir do castigo pela média perdida. Os políticos corruptos tem todo o meu asco. Mas o Pânico errou sim. E merece, sim, o “não curti” de milhares de internautas, mesmo que eles (nós) ainda não sejam o melhor exemplo de revolução.

Acho que a gente devia tolerar menos as extrapolações do humor. Acho que a gente devia tolerar mais a repercussão esbaforida e cafona do Face, se nos fundo as intenções forem boas. E acho que a gente merecia um humor mais criativo e menos dedo na ferida. Porque a vida já dói. E rir, hoje em dia, é que tá difícil.



Postado por: Marcela



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Minha última conversa com o pequeno príncipe

Postado por Infinito Particular às 09:52 0 comentários
Tu não sabes, principezinho, que esse planeta é um buraco sem fim de injustiças? Meu doce, meu pequeno príncipe, tu viajaste tanto por essa e por outras galáxias, mas não aprendeste nada sobre o único planeta em que resolveres ficar. Os homens são como os anéis de plutão, ou a cratera da lua. São inertes, não têm brilho, só poeira. Só são bonitos quando vistos de longe, do espaço, a anos e anos luz de distância. Não se pode amar os homens, meu bem, não se pode deixar-se cativar por eles. Tu mesmo sabes: até amar uma flor pode ser ingrato. Imagina, pois, amar um ser tão mais complexo, tão mais vil, apesar de não ter espinhos aparentes. Por que vieste para cá, meu bem? Não era feliz em teu planeta? Não sabia revolver os teus vulcões, sem precisar da ajuda de ninguém? Não podias ver quantos pores-do-sol desejares, bastando para isso afastar um pouco a cadeira? Não devias ter vindo. Aqui, os vulcões não são revolvidos, e destroem vilas e paisagens inteiras. Aqui, tudo é distante de tudo, e o sol só se põe uma vez.
Mas oh, não me olhes assim, que só digo a verdade. Não, meu bem, não te mostres assim tão decepcionado comigo. Também sou um homem, não sou? Talvez não devesses ter me pegado pela mão, me levado para beber água na fonte do deserto. Estás irritado comigo? Pareces bravo. Talvez não bravo, mas triste comigo estás com certeza. Só porque falo dos homens? Só porque tento abrir teus olhos para as coisas desse planeta? Eu só quero ajudar! Não quero que fiques iludido, achando que os homens merecem teu esforço para seres essa criaturinha tão nobre que tens sido.
Mas, Deus, o que estou dizendo? Estou falando como as pessoas grandes. Estou igual a elas, não é? Perdoa, meu bem, perdoa esse homem que chora tanto. Não queria ser como as pessoas grandes, sem fé na vida, tão sabidas desse discurso de que é bobagem ser bom. Oh, me sinto tão envergonhado! Mas é a dor da partida, meu bem. Não sei lidar com a perda, não sou mais criança para saber as coisas da vida. No lado mais sensível e reclamão do meu peito, estou achando muito injusto partires depois de tudo, partires para encontrar uma flor que fingiu para ti ser única no mundo, embora haja centenas iguais e a ela num único jardim. Acho injusto que tenhas que sentir o veneno, que tenhas que parecer estar morto, apenas para levar esse carneirinho para o teu planeta. Podíamos criá-lo aqui mesmo, tu o levarias para passear todos os dias, e eu desenharia pela manhã um pequeno arbusto para dar-lhe de comer...
Perdoes, meu bem, não queria ser rude. Mas estou tão triste! Hoje, eu poderia assistir a quarenta pores-do-sol. E nem isso consigo! Sabes que na Terra só há um pôr-do-sol por dia, e sem ti aqui eu sou um homem que ansia por pelo menos vinte poentes. Mas não estou te culpando, pequeno. Sei que a culpa foi minha. Agi como a raposa, quis que tu me cativasse, e agora reclamo que vais partir. Nós, homens, nós, seres da Terra, temos tanto a aprender! Sei que saímos ganhando. A raposa, por causa do trigo. Eu, por causa da fonte.
Façamos, então, um pacto: vamos guardar a fonte, como um símbolo. Beber água vai ser para nós um ritual. Sempre que puxares a roldana, vais lembrar que a água é boa para o coração. Vais lembrar que o que faz o deserto fascinante é o fato de que, em algum lugar, há uma fonte escondida. Então, eu vou olhar para a estrela, e sem saber em qual delas tu estás, acharei todas fascinantes. E tu olharás para o cosmo, para a mancha maternal da Via Láctea, e sem saber em que ponto estou, acharás todo o universo fascinante. Então, o simples fato de que eu existo, fará qualquer água boa para o coração, e qualquer roldana vai cantar em tuas mãos. E o simples fato de teres passado pela minha vida fará qualquer deserto o seio de uma fonte, e de qualquer fonte um coração.
Te deixo partir. Hoje te vejo, e isso me dá muita alegria. Não sei descrever o quanto me faz bem poder ver teus cachos dourados, teu olhar tão agudo sobre as coisas. Tentei desenhar-te, para guardar essa imagem, mas não consegui chegar nem próximo da realidade. Não me julgues incompetente, meu bem, desenhei-te um carneiro, não foi? Mas confesso que, desde as jiboias fechadas e abertas, estas têm sido minhas primeiras tentativas de desenhar. Tem paciência, viu? Um dia vou aprender, vais ver. Um dia vou desenhar tão bem que, quando eu retratar um elefante no interior de uma cobra, ninguém se atreverá a dizer que é um chapéu. Ninguém nem ao menos verá um chapéu. E todos vão me achar um homem muito razoável. Mas que bobagem estou dizendo, isso nem me importa mais! Não me importa o que pensam as pessoas grandes. Já não tenho tempo para lidar com essas minúcias, com a matemática, a moral e os bons costumes... minha vida está agora cheia de pores-do-sol, baobás e carneiros. Há tanto a fazer! O mundo está repleto de coisas importantes, como as raposas e as roldanas, e quero preencher  minha existência disso tudo para que tua ausência pare de doer tanto. Calma, meu bem, não vou chorar de novo. Prometo, tá? Só estou dizendo isso para saberes que hei de aprender a desenhar. Quem sabe poderás ver! Tu podias vir me visitar, marquemos uma data, que vai ser minha motivação para aprender. Oh, meu pequeno príncipe, não me olhes assim! Não vou mais insistir nisso. Esquece a visita. Eu já entendi! Juro que entendi. Não preciso dos desenhos, não é? Só preciso beber a água e saber que ela é boa para o coração. Só saber. Não é preciso que estejas aqui. Para quê, se já te tenho inteiro dentro da minha alma? Não temos porque alimentar a visão. Isso é passageiro. Não vou te ver, mas não tem problema. Porque só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. 


Postado por: Marcela

sábado, 7 de abril de 2012

Dia do Jornalista

Postado por Infinito Particular às 07:47 0 comentários
Hoje é dia de comemorar uma das decisões mais acertadas da minha vida.

Pensando em tudo que o jornalismo me traz, só consigo reforçar os sonhos e a as utopias que eu tinha antes de entrar oficialmente nesse mundo. Não que eu não saiba: sei, de ouvir falar e de viver, de todos os problemas da imprensa, das suas falcatruas, dos seus erros, pecados e delírios. Sei, e não nego que ainda temos muito a aprender, ainda temos muita luta pela frente para fazer valer a ética, que na nossa profissão está olhando para a gente todos os dias, fazendo perguntas e lançando enigmas que nem sempre sabemos responder.

Mas sei também, de ouvir falar e de viver, que o Jornalismo é mais que tudo isso, é anterior a tudo isso e precisa ir além - até onde chegar a sociedade, e, mais ainda, tendo a obrigação de conduzí-la a um lugar melhor. O Jornalismo sustenta a democracia. O Jornalismo possibilita a globalização.O Jornalismo amplia a comunicação humana.

É preciso interligar isso tudo: é preciso que o mundo seja mais do que uma aldeia global. É preciso que nossos vícios e virtudes sejam discutidos, é preciso buscar soluções, é preciso ver as tantas realidades que existem, para começar a pensar no que fazer com a nossa própria. É preciso, antes de mais nada, acreditar que conjuntamente sabemos mais do que na nossa teimosia egocêntrica.

Ler um jornal pela manhã, ouvir a conhecida voz do rádio, ver as imagens do dia na televisão, viver a loucura e a eforia de uma redação: tudo isso é grande demais. Mas ainda sim é apenas consequência, é apenas a parte prática e cotidiana de algo maior.

Me apego ao Jornalismo como redenção. E espero dele um desempenho melhor. E acredito nele, todos os dias.

E o amo, irrevogavelmente.





Parabéns, jornalistas!
Não desanimem, acreditem, e vamos em frente. :))

Postado por: Marcela

sábado, 24 de março de 2012

Sei lá.

Postado por Infinito Particular às 15:00 0 comentários
Incomode. Seja resiliente quando todos parecessem feitos de concreto. Quero ver o brilho nos teus olhos, por trás de toda a cor cinza que polui a cidade. Na segunda-feira, acorde depois que o sol partir. Caminhe sobre os trilhos, deixe o trem desvie de você. Abra teus olhos debaixo d’água. Veja claro como um cristal. Passe sua sexta-feira num parque, no topo de uma montanha-russa, vendo a correria correr lá em baixo. Vendo o tempo se esgotar a cada passo. Disseram às nove? Não se levante antes das dez. Trabalhe sábado e domingo, só porque você ama trabalhar, você ama o que faz. Hoje o dia é seu. Vamos lá, pé ante pé. Quando o vento cortar sua face, sinta a sutileza da vida. Do amar, do sonhar. Pise nas pontas do pé, rodopiando até a cabeça girar com você. É teu mundo girando, então deixa girar. Deixar o tempo passar, deixa a si mesmo ser. Não ouça os tabus gritados dos altos dos prédios. Quem foi que disse que é certo comprar pra ser? Quem foi que disse que sobreviver é viver? Quem deixou morte virar estatística?  Quem deixou você ignorar o bem, enquanto o mal vende jornal, estampa manchete? Quem foi que disse que animal é irracional? E quem foi que disse que é inútil flutuar? Incomode. Só hoje, tire os pés do chão.


Postado por: Jéssica.

domingo, 11 de março de 2012

Papel e caneta à mão.

Postado por Infinito Particular às 07:43 0 comentários
Estou sempre de papel e caneta à mão. Não se assuste não quero te entrevistar, vida. Não farei perguntas maliciosas, ou nem te jogarei contra a parede. Quero apenas estar preparada, estar a postos. Quero apenas anotar, cada cena, cada comentário. Quero não me esquecer das deixas, das queixas, dos canários.

Folheei algumas páginas desse meu caderno de anotações, e deixei sorrisos escaparem do canto dos lábios. Deixem lágrimas borrarem o 'o' da dor. Ah, e é claro, as anotações de rodapé, cheias de risadas sonoras, confetes jogados no ar, cabelos rodopiando, rodopiado, jogados, descabelados. Ainda sinto o perfume das rosas que descrevi, que despetalei, que quis bem-me-quer. Oh, e a aspereza dos calos não me assustam quando vejo quantas palavras ricas a experiência trouxe. O que me arremete ao som dos dedos teclando sedentos, pra falar, falar e falar  - e como esses dedos falam. Que página suja é essa? Será isso a lama em que o branco se afundou em que as mãos se entrelaçaram e fizeram arte? Essa mesma lama que sua mãe gritou que lhe fizera perder a camisa novinha, presente da tia? E por falar nisso, onde será que anotei sobre os discos velhos, apinhados de poeira, detentores de tangos tão tradicionais quanto apaixonados, que fizeram teus sapatos gastos riscarem o chão da sala? História que ouvi centenas de vezes minha mãe contar, “ainda lembro-me da minha madrinha dançando desse jeito aí ó, lá nos bailes; era a coisa mais linda.”

No chão riscamos à giz os desenhos de uma família feliz. Dos trecos e velharias, fiz brinquedos que brincaram minha infância inteira comigo, e duraram mais do que aqueles caros, comprados pelo papai Noel – ainda tenho alguns rascunhos de cartas que lhe escrevi, meu bom velhinho.

E cá está meu agradecimento eterno ao meu criado mudo, por sem dizer nada, sempre estar lá ao meu lado, dando luz à meia noite no meu quarto, quando a insônia não dava descanso aos meus olhos. Esses olhos cansados, porém atentos. Guardados atrás de lentes que me ajudam com esses 4 graus de miopia. E o que os olhos não veem, o coração sente sim. Ele vibra diante de um grito daquela torcida pouca, mas boa, que se uniu no Bonfim. Ele grita, tão ou mais alto que a música, samba-de-raiz, que sacode meus pés, às vezes antes mesmo que eu perceba. E vou sambando, se Deus quiser, até o anoitecer. Diante da lua, fiz algumas juras de amor. Que ela não tenha ouvido todas, ou quem vai pensar que sou?

Dizem que sou louca, exagerada, vazia, grossa, inspirada, criativa. E vão dizendo, dizendo, dizendo. Mas o que eles não sabem é que vou aqui escrevendo na memória, às vezes falha, cada pedaço de mim. Porque é isso que amo na “escrita”: poder ser eu em cada cantinho.

Às vezes não sei explicar por que levo à mão papel e caneta. Mas meu coração bate feliz em dizer que, na verdade, que mesmo depois de escrever tanto, ainda estou em branco.




Postado por: Jéssica.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Saudade - A mulher por Veríssimo

Postado por Infinito Particular às 14:33 0 comentários
Foi difícil, quase impossível, escolher apenas um texto de Luís Fernando Veríssimo sobre mulher. Difícil mesmo! Tanto que sugiro que você jogue no Google “crônicas de Veríssimo” para entender do que eu estou falando. O mestre do cotidiano é também o mestre do universo feminino. Acabei ficando com “Saudade”, que foi uma das primeiras crônicas que li, e que revela toda a maestria do autor. Inspirado, é claro, pelas mulheres.

 Luís Fernando Veríssimo é conhecido por suas crônicas e textos de humor, mais precisamente de sátiras de costumes, publicados diariamente em vários jornais brasileiros. Verissimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancista bissexto. E A NOTÍCIA BOA é que ele vai estar em BH amanhã, lançando seu livro "Em algum lugar do paraíso". A entrada é gratuita e os primeiros livros serão vendidos por R$5. #OMG!

 A ilha só não era ilha deserta de cartum porque em vez de uma palmeira tem várias. Mas no resto é igual. Os náufragos são dois. Dá pra ver o tempo que estão na ilha pelo comprimento das suas barbas, e as barbas batem no joelho. Estão falando sobre mulher.
     --Tem um ponto, acho que é aqui no pescoço - faz tanto tempo - em que todas cheiram igual.
     --Bobagem. Cada uma tem um cheiro diferente.
     --Não, não. Tenho certeza quase absoluta. É aqui, nesta dobra. Um cheiro, assim, doce. Todas.
     --E você cheirou todas?
     --Todas as que eu conheci tinham o mesmo cheiro aqui. Eu enchia as narinas, meu Deus. Eu...
     --Não vá começar a chorar outra vez. Você prometeu.
     --Sabe o que é que eu me lembro? O antebraço.
     --Onde é que ficava isso?
     --Aqui em cima. O antebraço é a coxa do braço. O braço era aqui embaixo.
     --Não é o contrário?
     --Não importa o nome. Aquela parte carnuda, em cima.
     --Já localizei. O que que tem?
     --É a parte da mulher que envelhece mais devagar.
     --Você está delirando.
     --É fato. Quando a mulher é nova, a carne ali é rija. Depois de uma certa idade ela perde a rigidez, mas não fica flácida logo. Fica, assim, cheia. Roliça.
     --História.
     --Até nas magras, aquela parte é carnuda. Nunca conheci uma magra que não tivesse, pelo menos ali, um montinho remissor. Alguma coisa onde se meter os dentes.
     --Lembra as magras de peito grande?
     --Lá vem você com peito.
     --Sempre fui um homem de peitos.
     --Está bem, está bem. Mas não generaliza. Pense naquela curva aqui, saindo da axila e inchando suavemente, suavemente... Dizem que não existem dois seios iguais no mundo.
     --Como que não? Pelo menos dois tem que haver.
     --Não há! Não é fantástico? O esquerdo é diferente do direito.
     --Vem com essa. Só porque cada um olha para um lado.
     --Não. São diferentes. Têm personalidades diferentes, tudo.
     --E eu tenho que agüentar...
     --Lembra nuca?
     --Nuca...
     --Quando elas puxavam o cabelo para cima, sempre sobravam uns fios na nuca.
     --Puxa, eu tinha me esquecido da nuca.
     --É onde a mulher tem o cabelo mais fino.
     --Não vem com teoria.
     --A curva do ombro. As costas quentes. Aquele ponto onde ainda não é a nádega mas já há uma elevação, um prenúncio...
     --A junção da nádega com a parte de trás da coxa...
     --Ah, aquela prega.
     --Não tinha prega nenhuma.
     --Como que não? Uma espécie de subnádega. Cansei de ver.
     --Nas suas, talvez. Que eu me lembre, terminava a nádega e começava a coxa, direto.
     --Por amor de Deus. E aqueles riscos que tinham embaixo da nádega, o que eram? Bigodes?
     --Nunca vi risco nenhum.
     --Porque você não prestou atenção. Só via peito.
     --Está bem, concedo a prega.
     --Agora, formidável era como a frente da coxa se projetava, lembra?
     --Mmmm.
     --A curva das coxas se salientava. Era uma curva longa, do quadril até o joelho. Um leve arco protuberante.
     --Dos joelhos, sempre preferi a parte de trás.
     --Os vãos. Exato.
     --Nas coxas, às vezes, você não via, mas olhando de perto notava uma leve penugem.
     --Tão leve que passando a mão, não se sentia.
     --Muitas raspavam as pernas.
     --Às vezes ficavam cortes. Pequenos cortes.
     --Isso. Criavam casca.
     --Só olhando bem de perto a gente via.
     --A pele macia e aquele cortezinho. Pobrezinhas.
     --A pele macia...
     --A perna atrás. Do vão dos joelhos até o tornozelo.
     --O tornozelo. Enrugadinho, mas lindo.
     --O dedinho do pé, sempre meio encurvado para dentro.
     --Todo aquele grande trecho do pescoço, da orelha até o ombro.
     --Orelha!
     --A boca.
     --Não fala.
     --O lábio inferior um pouquinho maior que o superior.
     --Os dentinhos, às vezes saltados. Mmmm.
     --A gente encostava a cabeça num seio e ouvia o coração.
     --Era morno. Tudo era morno.
     --Aquelas duas entrâncias na base das costas.
     --O umbigo...
     --Ah...
     --Você prometeu que não ia chorar mais.
     --Por que você foi falar no umbigo?

VERÍSSIMO, Luis Fernando. A velhinha de Taubaté. Porto Alegre: L&PM Editores, 1983.

sábado, 3 de março de 2012

Benditas sejam as moças que pedem gostoso

Postado por Infinito Particular às 17:17 0 comentários
E benditos sejam os homens que sabem captar os detalhes da alma feminina!
Como prometido, Xico Sá e as mulheres que pedem gostoso.


>Xico Sá é um jornalista e escritor brasileiro. Começou a carreira no Recife e é atualmente colunista dos jornais Folha de S. PauloDiário de PernambucoDiário do Nordeste,O Tempo, de Belo Horizonte e Correio da Bahia.




"Como ia dizendo, como elas pedem gostoso.
Como elas são boas nisso.
Resistir, quem há de?
Um simples “posso pegar essa cadeira, moço?” vira um épico, noooosa!
É o jeito de pedir, o ritmo safado da interrogação, a certeza de um “sim” estampado na covinha do sorriso.
Quantos segredos se escondem na covinha de uma mulher.
Pede que eu dou.
Pede todas as jóias da Tiffany´s, minha bonequinha de luxo!
Estou pedindo: pede!
Eu imploro, eu lhe peço todos os seus pedidos mais difíceis.
Pede todos os vestidos originais de Yves Saint Laurent. Todas as bolsas caras e metidas da Chanel ou Louis Vuitton? Pede que eu compro nem que seja uma pirata no camelô.
Não me pede nada simples, faz favor.
Já que vai pedir, que peça alto. Você merece.
Como é lindo uma mulher pedindo o impossível, o que não está ao alcance, o que não está dentro das nossas posses.
Podemos não ter onde cair morto, mas damos um jeito, um truque, um cheque sem fundos.
Até aqueles pedidos silenciosos, quando amarra a fitinha do Senhor do Bonfim no braço, são lindamente barulhentos.
Homem que é homem vira o gênio da lâmpada diante de uma mulher que pede o impossível.
Ah, quero o batom vermelho dos teus pedidos mais obscenos. É Wando que se recebe.
Quero o gloss renovado de todas as vezes que me pede para fazer um pedido, assim, quase sussurrando no ouvido: “Amor, posso te pedir uma coisa? Posso mesmo?”
Um castelo na Inglaterra?
Sim, eu dou na hora.
Que o Corinthians seja campeão da Libertadores?
Sim, eu opero o milagre.
Como no pára-choque, o que você pede chorando que não faço sorrindo?!
Um papel de estrela no novo filme de Almodóvar?
Deixa comigo que já tomo um drinque com ele e adiós.
Pede, benzinho, pede tudo.
Que eu largue a boemia, pare de beber e me regenere?
Pede, minha amada, que o amor tudo pode, por você cumpro as promessas de todos sambas de regenerados.
Que eu suba na pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, e declame os mais lindos poemas de amor verdadeiro?
Só se for agora, estou indo.
Os melhores cremes da Lancôme? Vou a Paris agora, nem que seja a nado.
Eu lhe peço, me pede.
Não pede mimos baratos… Pede ATENÇÃO, por exemplo, a mercadoria fora de catálogo e a mais cara do mundo no momento".
Fonte: http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/

Postado por: Marcela

sexta-feira, 2 de março de 2012

Eita gostinho gostoso !

Postado por Infinito Particular às 14:47 0 comentários
Encantam-me os finais felizes. Mas não os de contos de fadas. Gosto desses finais tortos, inesperados, sem qualquer plano, qualquer expectativa. Gosto do quanto podem ensinar. Gosto que me mostrem que a vida nem sempre vai ser como eu minuciosamente desenhei em minha mente, eles podem ser lindos. Lindamente imperfeitos. 

Gosto desses erros tão naturais que chegam a ser bobos. Dessa nossa tragédia cômica, desse nosso dia a dia. Dessa bossa-nova, já tão velhas em nossos ouvidos. Da comida saborosa, especial dos domingos. Dos encontros em família, das esperanças renovadas. Das datas tão especiais, que nos permitem tudo. E com tudo, digo sermos mais humanos. Sermos o carinho sem ganância. O dar sem esperar. O sorriso cru, sem nada mais. Gosto do rock gritado, do samba suado, do ‘to nem aí, quero mesmo é me divertir’. Nem sempre gosto de uma novela, mas gosto de ver como assistem a ela, do roer das unhas pelo final da mocinha. Gosto dos primeiros passos de um bebê, mas gosto também dos tropeços de quem teve que reapreender o que parecia tão simples – eles são a vitória mais glorificada. Gosto da união das mãos, e do fechar suave dos olhos, em procissão de fé. Gosto da fé, si. Ela já é um mundo de coisas. E por falar em um mundo, me lembro das coisas mundanas. Lembro-me das mudanças. De largar um compromisso inadiável, pra ganhar um abraço inesquecível. Gosto do riso que faz a barriga doer, e do choro que faz o mundo deixar de pensar sobre as nossas costas. Gosto, gosto, gosto... e posso gastar páginas me fartando dessas gostosuras.

E até quando não gosto, entre caretas e xingos, aprendo a gostar, porque querendo ou não, escolhendo ou deixando levar, essa é a vida. Vida da qual não espero mais nada além de viver dessas pequenas felicidades. E posso gostar de finais felizes, mas eu amo ‘meios’ felizes.

Postado por: Jéssica.

Costela de Adão

Postado por Infinito Particular às 08:13 0 comentários
Está chegando o Dia Internacional da Mulher. Sim, o dia dedicado à mim, à sua mãe, e à Angelina  Jolie. O dia da costela que, fora de Adão, realmente não parece ter saído dele. O dia da mulher é um dia de comemoração.
Mas de luta também, amorzinho, da bandeira da igualdade desfraldada na alma, pra que eles nunca mais esqueçam. É tempo de lutar, ainda. Mas não devia todo mundo saber que homens e mulheres são iguais, em direitos e deveres? Deveria, mas o mundo ainda engatinha. É preciso se fazer muito. Serão precisos ainda muitos oitos de março para a gente lembrar que dia da mulher é todo dia. E do homem também. Ainda será preciso contar muita história, de Simone de Beauvoir à Maria da Penha, para provar que os tempos mudaram. A sociedade evolui, gracias! O mundo está aprendendo sobre a mulher.
Espero pelo dia em que a questão da igualdade civil estará tão seguramente garantida e explicada à todos que poderemos nos dedicar sem culpa à discutir as deliciosas minúcias da existência feminina. O dia em que as pessoas vão aprender que quem ama não machuca, que fragilidade não tem sexo, que não há diferença moral entre um homem “pegador” e uma mulher “galinha”, e que os comportamentos femininos e masculinos devem ser condenáveis e exaltados na mesma proporção. Dia doce o dia em que o 8 de março será mais uma festa de se relembrar a história, e não de se dizer: “Ainda temos muito a fazer...”.
Minha ideia original era debater o sem número de assuntos que são - e devem ser - levantados no Dia Internacional da Mulher. Mas vamos fazer diferente. Vamos dar um passo à frente e falar não da luta da mulher, mas da sua graça, dos seus caprichos, da sua capacidade de ser divina.
Porque homens e mulheres são diferentes. Iguais em direitos, deveres, punição, perdão, intelecto, talento para pilotar o carro e o fogão. Mas são diferentes, felizmente, em muita coisa.
Afinal, o que querem as mulheres? Queremos justiça, em primeiro lugar. Queremos a concretização das promessas dos oitos de março. Depois queremos a liberdade de ser mulher, a mulher de Vinícius, de Botticelli, de Veríssimo, do Chico. A mulher de Adão, que daria todas as suas costelas para entender pelo menos um pouquinho da mágica.



Até o dia 8 de março, vou postar aqui no blog algumas das mais deliciosas crônicas e textos sobre a mulher. Amanhã tem Xico Sá. Aguardem!


Postado por: Marcela

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Sobre o tempo

Postado por Infinito Particular às 06:13 3 comentários

O tempo, como todos sabem, é relativo. E tem gente querendo mexer na relatividade. Mais precisamente, tem gente sugerindo mudar o calendário para unificar coisas como taxas de juros. Sabem o que eu acho? Perda de tempo - literalmente.

Explico o que acontece: um grupo de pesquisadores da Universidade de Johns Hopkins, nos Estados Unidos, tem defendido a adoção mundial de uma folhinha planejada. As informações são de uma matéria sobre o assunto, que foi publicada ontem no Jornal Estado de Minas. A reportagem explica que de acordo com esse calendário, todas as datas iam cair sempre no mesmo dia. O dia 7 de janeiro, por exemplo, seria sempre um sábado. Imaginem agora o desastre que seria fazer aniversário sempre na segunda-feira.

Ao longo da história já existiram vários calendários e não acho que uma mudança na contagem de tempo seja um problema. Mas vamos combinar que a gente já faz cálculo demais nessa vida para escolher nosso calendário baseado no funcionamento de um sistema financeiro que - olhem só! - nem funciona. 

Não estou desvalorizando o trabalho do economista Johns Hopkins e do astrofísico Richard Conn Henry, idealizadores do projeto. Cada um tem uma referência. Só não acho que um referência econômica seja suficientemente superior à todas as outras, de forma que mereça ser a base para o nosso tempo - que é cada vez menos bem aproveitado e confuso justamente em função do nosso comportamento na área econômica. 

No caso acho que outras pessoas poderiam se sentir no direito de propor uma nova contagem. Hippies, poetas, ateus, angolanos, crianças, baladeiros, agricultores, esportistas - cada um pela sua referência. Por que não?

Já acho ousadia demais a gente ficar contando o tempo. Uma ousadia necessária, claro. Mas todo mundo concorda que as horas se arrastam quando estamos fazendo uma coisa chata. Concorda que hoje o tempo voa, amor. E escorre pelas mãos. Não adianta: ele é rebelde, ele não é nosso. Ele passa. 

Vamos parar com essa bobagem de ficar mexendo na relatividade como se o tempo fosse um relógio. Não é: o relógio foi mais uma tentativa capenga de dominar o tempo, a de mais sucesso entre todas que, inevitavelmente, sempre tem um pouco de fracasso. Porque o tempo é um mano velho. E o máximo que a gente pode fazer é deixa-lo correr macio. E viver tudo o que há para viver. E nos permitir. 

Postado por: Marcela
 

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