segunda-feira, 30 de abril de 2012

Sobre a dor e outras coisas

Postado por Infinito Particular às 18:25 0 comentários

Hoje quero falar sobre a dor, e outras coisas. Quero não; preciso. Porque o que dói também é texto, também é pauta e também preenche essa nossa existência no mundo.

Por isso, preciso falar da dor e outras coisas.

Mas vou começar pelas outras coisas. Primeiro as damas. Primeiro o que afaga.

Hoje eu ouvi mais Los Hermanos do que cabia em mim, e isso são as outras coisas. Eu morri de rir com a minha irmã, eu encontrei um amigo no ponto de ônibus. As outras coisas é saber onde cabe meu nome, onde repousam meus sonhos, e ouvir os sonhos do mundo. É ler Pessoa. E gostar. É gostar das coisas, sentir aquele gosto do gostar, aquela pseudo papila gustativa que nossa faz achar coisas não comestíveis simplesmente deliciosas. Hoje eu tive vontade de devorar, de forma carinhosa, algumas coisas (e pessoas) e isso é bem as outras coisas. As outras coisas foi ficar de preguiça esperando só que o minuto seguinte fosse igualmente vazio. Foi dilatar no sol como há muito não fazia, e dormir com a agenda fechada. Foi amar meus amores. Ter amores é as outras coisas – não só, mas também. Amar é saber alguém de muitas formas, e saber alguém é talvez o mais fundo que vamos chegar no conhecimento. Então amar – acompanhem meu raciocínio – é chegar fundo no conhecimento. Filosofar, claro, também é as outras coisas. Pensar em teorias inúteis e acreditar que elas são minhas é, com certeza, bom. Para manter a mente cheia, para forçar os meus neurônios a fazerem algumas ligações a mais – por via das dúvidas, sinto que tenho perdido muitos ultimamente. Mas pensar é essencialmente as outras coisas, então vale o preço. Hoje quis escrever, e quanto me inunda escrever. Escrever é mergulhar de cabeça nas outras coisas – não só, mas também. Escrever é amor. Não é á toa que Rubem Alves diz que escrever é fazer sexo com as palavras. Amor não é sexo, eu sei. Mas mesmo assim. Amor é latifúndio, sexo é invasão, e tudo isso são as outras coisas. As outras coisas é a felicidade, a vida, essa infinidade de pormenores que eu classificaria como alegres. Ah, as outras coisas... o que seria da vida sem elas?

Seria dor, só. Hoje eu precisava falar da dor. Mas não sei bem. Sei que ela existe - que está quase sempre por perto. Mas dizem que ela passa; eu, por experiência, confirmo. E avisam que ela volta; eu, por viver, acredito. Mas não posso dizer mais do que isso sobre ela: ela existe, ela passa, ela volta (e aí passa de novo). Estou achando que a dor é bem resumível.

Mas as outras coisas, eu levaria horas falando sobre elas.  

Postado por: Marcela
 

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