Hoje quero falar sobre a dor, e outras coisas. Quero não;
preciso. Porque o que dói também é texto, também é pauta e
também preenche essa nossa existência no mundo.
Por isso, preciso falar da dor e outras coisas.
Mas vou começar pelas outras coisas. Primeiro as damas.
Primeiro o que afaga.
Hoje eu ouvi mais Los Hermanos do que cabia em mim, e isso
são as outras coisas. Eu morri de rir com a minha irmã, eu encontrei um amigo
no ponto de ônibus. As outras coisas é saber onde cabe meu nome, onde repousam
meus sonhos, e ouvir os sonhos do mundo. É ler Pessoa. E gostar. É gostar das
coisas, sentir aquele gosto do gostar, aquela pseudo papila gustativa que nossa
faz achar coisas não comestíveis simplesmente deliciosas. Hoje eu tive vontade
de devorar, de forma carinhosa, algumas coisas (e pessoas) e isso é bem as
outras coisas. As outras coisas foi ficar de preguiça esperando só que o minuto
seguinte fosse igualmente vazio. Foi dilatar no sol como há muito não fazia, e
dormir com a agenda fechada. Foi amar meus amores. Ter amores é as outras
coisas – não só, mas também. Amar é saber alguém de muitas formas, e saber
alguém é talvez o mais fundo que vamos chegar no conhecimento. Então amar –
acompanhem meu raciocínio – é chegar fundo no conhecimento. Filosofar, claro,
também é as outras coisas. Pensar em teorias inúteis e acreditar que elas são
minhas é, com certeza, bom. Para manter a mente cheia, para forçar os meus
neurônios a fazerem algumas ligações a mais – por via das dúvidas, sinto que
tenho perdido muitos ultimamente. Mas pensar é essencialmente as outras coisas,
então vale o preço. Hoje quis escrever, e quanto me inunda escrever. Escrever é
mergulhar de cabeça nas outras coisas – não só, mas também. Escrever é amor.
Não é á toa que Rubem Alves diz que escrever é fazer sexo com as palavras. Amor
não é sexo, eu sei. Mas mesmo assim. Amor é latifúndio, sexo é invasão, e tudo
isso são as outras coisas. As outras coisas é a felicidade, a vida, essa
infinidade de pormenores que eu classificaria como alegres. Ah, as outras
coisas... o que seria da vida sem elas?
Seria dor, só. Hoje eu precisava falar da dor. Mas não sei
bem. Sei que ela existe - que está quase sempre por perto. Mas dizem que ela
passa; eu, por experiência, confirmo. E avisam que ela volta; eu, por viver,
acredito. Mas não posso dizer mais do que isso sobre ela: ela existe, ela
passa, ela volta (e aí passa de novo). Estou achando que a dor é bem resumível.
Mas as outras coisas, eu levaria horas falando sobre elas.
Postado por: Marcela