sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Tudo novo de novo

Postado por Infinito Particular às 06:48 0 comentários
Brilhava estrela amiúde no céu recortado em cor, era uma noite comprida toda feita de ansiedade, e em cada canto da cidade se ouvia um canto novo, que a gente cantava  esperando que alguma coisa mudasse. Não se pausaram as brigas, não creio assim num só dia, a vantagem da virada era a alegria prometida, como se o amanhecer com o novo número trouxesse uma sorte astrológica, como se amar fosse a lógica depois que nascesse o dia. Era uma noite comprida que nem acabava mais, era um dia brincando de se demorar demais, e a gente brindando a vida de um jeito que não se faz, mas não é que deveria ter mais tempo dessa paz? Era uma noite nova, mas que no fundo era igual, e a gente contando as horas - parecia tão normal - comemorar o dia que chega, que a gente nem percebe, nos outros dias do ano, que do dia primeiro seguem. Os carros ainda partiam para lugares quaisquer, as dores ainda doíam e nem aliviavam sequer, o dinheiro ainda faltava, o amor ainda fugia, as fábricas ainda apitavam nas suas sonsas rotinas; o novo era só a vontade, era só a verdade mais clara: de que o que muda é nossa escolha; que o universo só espera que esse toque, de ano novo e ano bom, todo dia se renove. Como a manhã que é fresca a cada vez que a gente acorda, a vida tem o frescor pra quem com ela se importa, como se fosse ano novo, amanhã e depois também, e no carnaval ano novo e na quarta um dia além. É como se fevereiro fosse sempre dia primeiro, e setembro trouxesse a primavera e todo dia uma nova era, como se fosse novo também o dia de natal, e a gente emendasse 2011 em 2012, 2013 e 2014, e os dois mil e todos numa só festa, e a gente perdendo a conta: mas hoje é ano novo? Claro! E amanhã é de novo, e as noites todas compridas e os dias nascendo em glória, e as pessoas reunidas brindando o tempo que anda, pra frente e pra dentro da gente, a vida que vai deslizando, não para, não pode parar...

Postado por: Marcela

sábado, 24 de dezembro de 2011

Que se faça Natal.

Postado por Infinito Particular às 09:37 1 comentários
Era uma vez eu, sem saber o que escrever nesse Natal pra vocês.

Aliás, faz muito tempo que não escrevo nada, principalmente aqui. Me afastei dos textos e poemas por diversos motivos, mas espero e quero abandoná-los e voltar a escrever como fazia antes.

Mas não é isso que vim dizer. Vim desejar a vocês o ‘clichê’ que nunca sai de moda: paz confortante, amor ingênuo, saúde, fé que move e prosperidade no ano que se aproxima. Que seja um ano de realizações e de simplicidade! 


Porque isso é Natal: o nascimento do menino Jesus despertando em nós a essência dos mais belos e sinceros sentimentos. E seria perfeito que esses sentimentos puros e verdadeiros crescessem dentro das pessoas e viga-se não só no ano novo, mas em todos os anos que virão.  E como exemplo de Natal queria que vocês vissem esse vídeo, que achei simples, mas tão sinceros que é capaz de transformar. Um vídeo que as pessoas falam através do coração e mostram a importância das outras na vida delas. Não sãos bens materiais que fazem a diferença nesse mundo, são as pessoas. São elas que amam, constroem, sentem, vivem. 

Então seja e faça a diferença. É esse o meu maior desejo para o próximo ano: para que as pessoas se importem com as outras. Façam nascer a esperança de que todos possam abraçar essa causa com toda a fé... e não sei mais o que dizer. Só assistam: não tem palavras bonitas nem músicas tocantes, mas tem um sentimento tão profundo de gratidão e de humanidade, que não há como não se emocionar.


Que se faça Natal, que se faça o bem.




"Todo mundo tem o talento de fazer o bem".

Feliz Natal, e um ano repleto de realizações e de ações.

Um 2012 do bem




PS. Marcela companheira-de-blog me perdoe por abandonar o blog, mas estou de volta, e quero dar o melhor de mim em 2012 (ainda não estou na melhor forma).


Postado por: Jéssica.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Mensagem de Natal

Postado por Infinito Particular às 17:38 1 comentários

Fiquei pensando nas mensagens de Natal que poderia escrever para tocar: decidi escrever sobre Deus. Não sobre a entidade, mas sobre o sopro que sei que existe, não sei como nem porque nem onde nem quando.
Queria falar sobre Deus, mas não sobre o que nasceu na manjedoura 2011 anos atrás. Quero falar do Deus que nos socorre quando tudo dá errado nessa vida moderna estranha e cheia de falhas que a gente resolveu inventar. 

Muitas das pessoas que eu admiro e que falam com propriedade do desenvolvimento humano e da justiça social são ateus. Não vou deixar de admirá-los por isso. Por outro lado, não vou negar minha fé. A razão não é o oposto do transcendental, como não é o oposto do sentimental, mito que existia e já caiu. Acredito em Freud, em Darwin, em Marx e em Deus. Acho ótimo que a gente tente explicar pela ciência coisas que a religião insistia em falar que eram assuntos divinos. Não quero Deus para o inexplicável: quero Deus para o cotidiano, límpido e transparente.

Minha fé é majoritariamente católica, mas passa por várias outras crenças e cria caminhos novos que ainda não foram rotulados em nenhuma religião. Para muita gente posso até ser considerada herege. Mas suspeito que é essa liberdade de acreditar que sustenta minha fé. As respostas que eu mesma encontrei me fizeram ver um Deus maravilhoso. Um Deus conosco.

O Natal é bonito porque nele Deus é menino. O meu Deus também é menino, embora algumas vezes seja pai, em outras seja uma luz e em alguns casos seja até um vazio. Meu “Deus é leve e ri”, como o de Rubem Alves. Meus Deus não castiga. O que torna a minha fé viável, e a minha própria vida viável é o fato de saber que meus problemas não são uma provação divina, nem um castigo. São simplesmente problemas que surgem dessa teia social que a própria humanidade teceu, que não é lógica e tem muitas falhas, como todo ser humano. Mas que também é o que nós mantém seres pensantes e capazes de amar. Assim acabei me convencendo que se eu viver esperando uma espécie de recompensa ou justiça dos céus nunca vou ser feliz. Gosto muito de um trecho do livro A Cabana em que Deus fala assim “Eu crio um bem incrível a partir de tragédias indescritíveis, mas isso não significa que as orquestre. Nunca pense que o fato de eu usar algo para um bem maior significa que eu o provoquei ou que preciso dele para realizar meus propósitos. Essa crença só vai levá-lo a ideias falsas a meu respeito. A graça não depende da existência do sofrimento, mas onde há sofrimento você encontrará a graça de inúmeras maneiras”. 

O meu Deus tira graça do sofrimento. O meu sofrimento é suportável, não porque espero que depois dele eu receba a recompensa divina, mas porque estar na Terra é sofrer também: o milagre já aconteceu, minha própria existência é o bem maior que todo o resto. Ser já é suficiente. 

Mas mesmo assim eu peço a Deus que solucione, que resolva, que me ajude por favor, por favor, por favor. Eu choro, acendo velas, faço orações, porque acho que todo ritual de fé é também um estar em mim. Então ele me ajuda. Porque Deus mora em mim. “Namastê: o Deus que mora em mim saúda o Deus que mora em você”. E, criada essa intimidade, eu peço perdão. Pelas coisas que eu acho erradas, que se resumem basicamente em afetar negativamente a vida de alguém. Peço desculpas, sabendo que vou errar de novo. Mas o perdão Dele, inegável, automático e total, me ajuda a me tornar uma pessoa melhor.

E então eu agradeço. Agradeço muito. Mas agradeço pouco por tanta graça. Pedindo ajuda, pedindo perdão e agradecendo, eu me entendo com Deus, que é o que nasceu na manjedoura e também o que é a chuva e o sol. Me entendo com o meu Deus e fico imensamente feliz por acreditar. E por meio dessa fé crio caminhos mais bonitos para o prático e o científico e me aproprio de coisas realmente importantes na era da vida de plástico e chumbo. E comemoro o Natal, como mais um momento de renovar a minha fé e o próprio mundo. 

Postado por: Marcela

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Antes do zero

Postado por Infinito Particular às 06:21 1 comentários

 Declaro oficialmente o fim de velhos hábitos, o enterro de medos antigos o encerramento de tudo que mata, engorda ou faz mal. E que venha, de novo, o novo.

Me despeço oficialmente de fases e dramas que foram e são parte de mim: não é sem saudade ou sem receio que fecho algumas janelas. Mas é que eu tenho que abrir outras, porque a paisagem mudou também.

Quero agora tudo que nasce cru e sem memória, quero a folha em branco e a insipiência de um dia que ainda não foi. Estou limpando as gavetas e deixando ir tudo o que já não uso mais, e não tenho pressa em encher tudo de novo: quero contemplar o espaço vazio, lindamente nu. Quero o nu sem lenço e sem documento, o nu modernista que nada enfeita e nada propõe, apenas é, reconhecendo a beleza do vazio. 

Quero coisas novas e voláteis, de permanente quero apenas minha certeza de que é começando que a gente vive.

Quero começar do começo, do ponto zero, e se fosse possível gostaria de começar antes do zero, no vazio de tudo onde as coisas não tem nenhum rótulo ou verdade.

Mais que a mudança, quero a invenção.



Postado por: Marcela

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Para o professor;

Postado por Infinito Particular às 16:47 0 comentários

Sabe porque a greve dos professores teve que acabar?

Porque longe dos gabinetes, a vida continuava para quem não tinha a paralisação como apenas mais uma dor de cabeça, mas sim como a única e desesperada maneira de chamar a atenção e dizer: “Não está funcionando”.

Qualquer um que tiver a oportunidade de ir a uma escola estadual de ensino médio pode apontar as situações que simplesmente reafirmam o quanto ser professor é fazer mágica, e superar o caos sabe-se lá como.

A greve teve que acabar porque os professores sabem os nomes dos alunos, sabem o jeito da letra deles e as dificuldades que passam a vida. Aí um dia a mais era sempre um dia de resistência, mas também um dia de uma culpa por não estar ensinando, que é só o que se pode fazer para esses milhares de jovens que ocupam as cadeiras das escolas públicas.

A greve não pôde continuar porque as dívidas chegavam, e os professores tem filhos, netos, casa, eletrodomésticos a prestação, cachorro, luz elétrica e mais uma porção de coisas dependentes do salário que chega no fim do mês, depois de um trabalho inegavelmente exaustivo. Salário que não estava chegando, em função da greve.

A corda cedeu do lado mais fraco, e quem disse que essa brincadeira é justa? Medir força não é medir merecimento. 

Um desencontro de informações e um stress inevitável de quem tinha que passar pelo centro de Belo Horizonte e que não tinha culpa da situação lamentável dos professores também são fatores que deixaram a chama se apagar, de cansaço. 

A greve teve que acabar porque o estrago de uma greve NUNCA será maior que o estrago de uma geração de professores desmotivados, mas seus efeitos imediatos são mais devastadores. E nós somos uma sociedade imediatista.

O que eu menos queria no dia dos professore era balançar a bandeira da realidade e deixá-los ainda mais decepcionados, mas sinto que é preciso voltar no assunto para que tudo não seja em vão. É preciso dizer que eu apoio vocês, que os alunos que eu conheço apoiam vocês e que existe um sem número de pessoas que ainda não descobriu como soltar a voz que realmente apoia vocês. Existe, é claro, uma parte que é contra. Esses se dividem em dois: uma parte ignorante, fruto de um sistema educacional fragilizado e uma parte que analisou os acontecimentos e se reservou ao direito de exercer a liberdade de opinião, que é fundamental e é uma das principais funções da educação. 

De qualquer forma, só falei nisso para que meus parabéns não sejam vazio. Parabéns, professor, pela insistência naquilo que é a base da base da base para qualquer evolução social: a educação.
Parabéns pela luta, e pela doçura, pelo esforço, pelo malabarismo, pelo carinho, pela severidade, pelo humano, pela arte das artes. 

Parabéns por estar no jogo, onde as verdadeiras mudanças acontecem. Parabéns por arregaçar as mangas numa sociedade que fala muito e faz tão pouco. Parabéns por fazer.
Desculpe os cansaços e as decepções. Obrigada pela infância preservada e pela construção do ser. 

Parabéns pelo seu dia.

Aceite os meus desejos de que a vida de vocês seja um retorno de toda a luz e bem que promovem. E desculpem se é só isso que posso oferecer, depois de tanto ter recebido de vocês. 

Postado por: Marcela

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O errado que deu certo

Postado por Infinito Particular às 07:42 0 comentários
Gosto da falha. Uma cicatriz num rosto perfeito. Uma maria regateira no roseiral. Um lapso de memória em alguém que quase nunca esquece.


Gosto da falha como o quase. É quase perfeito, quase... mas tem um errinho ali, ó. O absoluto assusta: quando a esmola é muita, o santo desconfia. A falha serve para que a gente acredite mais e arrisque mais também, porque afinal, nada é perfeito. Ufa!
Lembro que na minha primeira escola o chão era um mosaico de ardósia, mas tinha um quadradinho de azulejo. Um erro de cálculo do pedreiro ou um reparo de urgência, eu sempre soube que aquilo não estava nos planos. Mas a gente brincava com aquele azulejo como se ele fosse a ideia mais original que alguém podia ter, e de desvinculado ele passou a ser nossa referência. Hoje é uma lembrança bobinha que eu guardo comigo, que eu não teria se aquele calçamento fosse perfeito.


A viagem que a gente nunca esquece é sempre a que dá errado. É quando você esquece a mala que arrisca um novo look. Os micos e apertos são as primeiras coisas que contamos na volta, e são os casos que vamos repetir em toda festa de família ou em qualquer roda de amigos. Se furar o pneu é que você conhece aquela cidadezinha fora do mapa. É quando a câmera dá problema no meio do show que a gente puxa papo com a pessoa do lado. É quando um amigo está naquela saia justa que podemos mostrar a mão estendida.


É a garoa que faz de São Paulo o avesso do avesso. É não ter mar que torna mineiros apaixonados por praia. Foi a mistura (condenada na época) que fez dos habitantes do Brasil o povo brasileiro.


É a fragilidade que nos torna próximos, não a auto suficiência, não a perfeição, mas o erro. É na tentativa que somos humanos, não na vitória gratuita. É a falha que encanta. A falha reparada, trabalhada, superada, mas sempre a falha. Essa sensação do humano é que nos impulsiona.


Falhando, a gente segue. E é seguindo que a gente acerta.


Postado por: Marcela

domingo, 11 de setembro de 2011

O se

Postado por Infinito Particular às 17:29 0 comentários
Tenho medo do se. Total. Sinto que tenho um certo controle da minha vida, até começar a pensar “e se”...
Não que a gente não deva se questionar, e manter a auto-crítica sempre ativa. Mas essa coisa de ficar pensado como poderia ser, sinceramente. Não tem nada mais frustrante do que desenhar o futuro – ou redesenhar o passado. O passado, bem, já passou. “E se” não serve para o passado, porque a quantidade de desdobramentos que resultam de uma escolha sua impedem a formulação de que qualquer teoria sobre como seria se você tivesse agido de outro jeito. Desenhar o futuro, por sua vez, é um perigo. Porque é muito difícil sair do jeitinho que você imaginou. É claro que temos que planejar de uma certa forma. Mas dizer “vou estudar jornalismo” é diferente de dizer “vou estudar jornalismo para ser a editora chefe do grupo Abril”. As chances de decepção quando você coloca o “e se” no futuro são tão grandes quanto as dores causadas pelo “e se” associado ao passado.
Tenho medo do “e se” porque ele não parece errado. Não parece burrice, nem armadilha, a gente até confunde e diz que é “sonho”. Aí de vez em quando a gente deprime e nem sabe porque, mas quando assusta foi o “e se” que começou tudo.

Eu estava justamente pensando nisso hoje quando achei essa crônica do Veríssimo, que expressou esse meu pensamento aí de cima de um jeito bem mais inteligente e divertido. E de qualquer forma, acho que essa é uma boa reflexão diante da iminência de uma segunda-feira. :)

"Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido.

Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste…

Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz – aliás, o nome do bar é Imaginário – sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:

- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo

E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.

- Por que? Sua vida não foi melhor do que a minha?

- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei a seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia..

- Eu sei, eu sei… disse alguém sentado ao lado dele.

Olhamos para o intrometido… Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou:

- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.

- Como é que você sabe?

- Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como me mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um herói, me tirei… Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante…

Ele chutaria para fora. Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou.

- Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa. Embarquei com festa no Rio…

- E o que aconteceu? perguntamos os três em uníssono.

- Lembra aquele avião da VARIG que caiu na chegada em Paris?

- Você…

- Morri com 28 anos.

- Bem que tínhamos notado sua palidez.

- Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo…

- E ter levado o chute na cabeça…

- Foi melhor, continuou, ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado…

- Você deve estar brincando.

Disse alguém sentado a minha esquerda. Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.

- Quem é você?

- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.

Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a outra. As conseqüências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração. Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça, tristemente. Só então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas.

- Quem é você? Perguntei.

- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.

- E..?

Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo…

Creio que a vida não é feita das decisões que você não toma, ou as atitudes que você não teve, mas sim, aquilo que foi feito!

Se bom ou não, penso, é melhor viver do futuro que do passado!"

Postado por: Marcela

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Quero a fome

Postado por Infinito Particular às 19:50 0 comentários

Erramos ao pensar que alguma coisa pode ser óbvia o suficiente para ser incontestável. Conheço pouquíssimas coisas incontestáveis. Conheço uma infinidade de situações em que o que salta à razão é o que não quero. “Não quero a faca nem o queijo: quero a fome (Adélia Prado)”.

Faca e queijo na mão, quero a fome. Porque não? Só porque as pessoas passaram gerações usando a faca para cortar o queijo, e usando o queijo para matar a fome, não significa que deixar a fome viva seja incapacidade de usar a faca. As respostas estão sempre aí, as perguntas é que devem ir mudando; as perguntas é que são a essência, não as respostas.

O que é ser bem sucedido? Para alguns é saber cortar o queijo. Para alguns. Fazer parte da minoria que quer a fome não pode ser considerado uma afronta ou uma irresponsabilidade. Alguma vez você chegou a pensar que os seu certo pode não ser o certo do mundo? Com quantas coisas diferentes o homem já foi capaz de sonhar? Com todas aquelas que hoje são realidade, e com mais um número inacreditável que foram sufocadas por algum motivo. Sufocamos sonhos todos os dias. Temos a tendência de moldar: moldamos os anseios pessoais como se eles fossem um roteiro pré-determinado. Todo mundo quer isso. A gente tem que querer aquilo. Você tem tudo para conseguir tal coisa, porque insiste em querer outra? Ouvimos isso sempre. É uma bobagem, mas não fazemos por mal. Formar estereótipos nos traz segurança, e em muitos momentos eles são necessários. Mas num segundo olhar temos que nos lembrar que eles são apenas um facilitador, e não uma moldura que impede qualquer tipo de expansão. Quando olhamos para alguma coisa pela segunda vez podemos sim permitir que as surpresas tenham o efeito de novidade, e não de traição.

Então quando te dizem que o sucesso é isso, questione mesmo que questionar o sucesso possa parecer dor de cotovelo. Quando te disserem qual o nível de importância da riqueza, questione o conceito de riqueza. E enfim quando for a hora de vencer na vida, escolha sua própria ideia de vencer.



domingo, 14 de agosto de 2011

Receita da Felicidade

Postado por Infinito Particular às 05:34 0 comentários
(Para o meu e para todos os pais)

Receita da felicidade? Essa vou ficar te devendo. Já vi em algum lugar, mas não sei se é muito fácil, nem tem garantias que vai dar certo. Já provei também, e é ótimo. Que eu me lembre, aliás, é a melhor coisa que já provei. Mas foi assim de improviso que foi preparada. Receita mesmo, passo a passo, não tenho. Infelizmente. Mas vamos fazer assim;



Segura minha mão bem forte e me diz que vai ficar tudo bem. Eu vou acreditar nas coisas boas da vida, e a gente vai encarar junto as ruins, com a coragem de dois heróis. Eu vou te contar um sonho de vez em quando, e agente vai pensando nele quando der, e pensando em outros para fazer um mural bem grande e bonito de ficar olhando. Quando for de noite você diz para eu confiar em mim, e eu de olhos fechados vou seguindo os sinais que aparecerem, apoiada na fé que tenho no seu bem querer. Eu vou te pedir desculpa quando errar, você me perdoa? Eu perdoo você também, na conversa a gente vai se entendendo. E amor não precisa nem sempre de entendimento, só carinho às vezes resolve esses dilemas de gerações. Me sorri bem aberto, que eu devolvo toda a luz desse amor que tenho por você, que é tanto que escapa do peito. E quando for enfim o dia de fazer coisas grandes e importantes, que nos lembremos das coisas simples e nossas, e que nossos juramentos de amor sejam sempre comemorações e nunca rituais vazios. Mas quando enfim for um dia só de coisas simples, que nos lembremos que elas são sempre as mais importantes, e que nossos juramentos de amor sejam sempre um jeito nosso de comemorar a vida.



Postado por: Marcela

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Geração Tamagoshi - Dia da Juventude

Postado por Infinito Particular às 17:51 0 comentários
Hoje é dia mundial da juventude. E cerca de um mês antes de completar 20 anos eu fico pensando em como estou ficando velha.


Nasci quando estava começando a Guerra do Golfo. Depois disso já teve a Guerra do Iraque, a Guerra do Afeganistão, a Guerra dos Sexos – que continua sempre.

Minhas fotos de criança estão todas reveladas. A gente tirava no máximo 36 de cada vez, que a gente só via depois de revelar. Então nada de ficar batendo mil fotos; era uma da família em frente ao mar e olhe lá, torce para não queimar! A mãe escrevia atrás o lugar e a data e guardava tudo numa caixa dentro do armário da copa, que de vez em quando a gente pegava para ficar olhando.

Meu primeiro disco foi da Xuxa. Minha primeira fita da Angélica. Meu primeiro CD eu pedi de Natal, e veio embrulhado para presente como se fosse a coisa mais moderna do mundo (peraí! Era a coisa mais moderna do mundo). Mas o som que tocava CD só chegou bem depois. Era das Chiquititas meu primeiro CD. Era das Chiquititas meu primeiro amor – o Mosca. Meu primeiro amor platônico era um menor abandonado num orfanato. Existe alguma coisa mais antiga do que isso?

Dizem que tem, e chama-se vick vaporub. Mamãe passava nas nossas costas e peito, e a gente melhorava na base da massagem. Depois era só tomar uma aspirina rosinha que tudo se resolvia. Tava lá o termômetro de mercúrio para comprovar. Nessas ocasiões a gente ficava em casa assistindo dragon ball ou os ursinhos carinhosos. E se a gente desse muita sorte passava A Lagoa Azul na sessão da tarde.

Sou da época que Plutão era um planeta. Um real era dinheiro. Internet é o que só tinha na casa do vizinho do amigo do seu primo em segundo grau.

É isso aí, feliz dia da juventude para a gente.



Postado por: Marcela

domingo, 7 de agosto de 2011

Postado por Infinito Particular às 08:12 0 comentários
Sucesso é acordar de manhã, não importa quem você seja, onde você esteja, se é velho ou se é jovem, e sair da cama porque existem coisas importantes que você adora fazer, nas quais você acredita, e em que você é bom. Algo que é maior que você, que você quase não agüenta esperar para fazer hoje.  

- Whit Hoss. 



Postado por: Jéssica.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Não que a vida seja assim tão boa, mas um sorriso...

Postado por Infinito Particular às 16:46 0 comentários
Passada (parcialmente) a aflição de dar-se conta da rotina, quero deixar aqui uma mensagem de otimismo. Sei que a época não está para colocar lentes cor-de-rosa e respirar purpurina como se estivéssemos conversados, mas acho que de vez em quando é conveniente reconhecer algumas coisas.

Não estamos vivendo a melhor das épocas, mas pelo amor de Deus, não é a pior. Absolutamente. Hoje temos tempo para discutir melindres e particularidades que só emergiram porque grande parte da história já foi solucionada. Quando nos dedicamos a pensar o melhor método de ensino infantil, por exemplo, temos que nos lembrar que acima das discussões está o alívio por termos uma parte significativa das crianças na escola. E também por termos uma consciência da importância da educação.

Todo primeiro passo é só o primeiro, mas a evolução tem tudo a ver com progressão. As coisas vão acontecendo, um passo de cada vez. Vamos lutar para garantir que as mudanças aconteçam, mas vamos nos permitir sorrir e aproveitar as coisas boas que já vieram. Vamos plantando sim, sem descanso, mas vamos colher também aquilo que deu muito trabalho para alguém cultivar um dia.

Olho o preconceito incrédula de que alguém ainda aceite isso, mas nosso passado de escravidão é tão próximo que sustento a esperança de um dia a descriminação ser erradicada de vez. Não acho que seja utopia. Acho que vai dar trabalho, e vai exigir uma tremenda dedicação de todo mundo – sem vacilar, sem dar brecha. Mas não é impossível. Impossível é achar que vai ser sempre assim e conviver com isso numa boa.

Gosto de afirmar para mim mesma que as coisas estão melhorando, não para me manter numa zona de conforto, distante do mundo, mas para separar o joio do trigo e me dar conta de que tem muita gente salvando o mundo por aí. Os sociólogos costumam dizer que “a situação é aquilo que fazemos da situação”. Percebem? A situação não é um retrato dado para a gente dependurar na parede, mas um cenário que vai mudando, que nós vamos mudando. Da sociologia também veio a revelação que a nossa sensação de insegurança é bem maior que a insegurança real. O Brasil é inegavelmente um país muito violento, infelizmente, mas achamos que a coisa está bem pior porque nos deixamos envolver por um sem números de notícias sensacionalistas e tomamos como verdade coisas que nem nunca chegamos a experimentar. Porque? Não vamos viver como se os perigos, as maldades e as injustiças não existissem, mas porque não dar uma chance à realidade e começar a criar respostas ao invés de adiantar as formulações de nossos conceitos?

As críticas têm trazido conquistas importantes para a sociedade, e a insatisfação humana é também a mola propulsora que o leva a melhorar. Mas a crítica pela crítica é apenas um desserviço, um hábito que tem sido disseminado e simplesmente não ajuda em nada. Então antes de entrarmos nesse ciclo de desânimo e insatisfação, vamos pelo menos tentar abrir um sorriso e ver no que vai dar. “Não que a vida seja assim tão boa, mas um sorriso ajuda a melhorar”.



Postado por: Marcela

 

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