sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Herói Nacional

Postado por Infinito Particular às 05:52 2 comentários
Confesso que toda essa movimentação de eleições tem me deixado um pouco deprimida. Depois do primeiro turno, se abateu em mim uma convicção muito triste: eu não quero que nenhum dos dois candidatos ganhe. E a tristeza disso vem do fato de saber que a gente vive em uma democracia que, mesmo com todos os problemas, está progredindo a cada eleição. E mesmo assim, aos 19 anos de idade, eu já demonstro um desânimo total com os candidatos. O meu principal medo nisso tudo é ficar desiludida com a política, com o país e talvez até com a democracia.

E foi pensando nisso que se acendeu uma luzinha no fim do túnel, e eu percebi que às vezes a gente fica tão cheio de idéias e preocupações que se esquece de coisas importantes que nós sempre soubemos. A coisa importante que eu esqueci é justamente um ponto de vista que alivia minha angústia em relação a escolha do novo presidente: o mito do herói nacional.

Em decorrência de fatores históricos, nós, brasileiros, acreditamos no mito do herói nacional. A gente tem a impressão de que tudo que aconteceu no país foi fruto da movimentação de um ou dois homens, que são os únicos responsáveis pelo que veio de bom ou de ruim. Nossos livros de história são ilustrados com pinturas de personalidade brasileiras, e a gente é capaz de citar nomes, mas raramente o contexto em que aquele nome viveu. Será que foi só Tiradentes que queria a liberdade? (alguém se lembra da Conjuração Baiana? Pois é, centenas de homens pobres morreram por esse ideal, mais ou menos na mesma época). JK governou o Brasil sozinho? O Brasil de hoje é fruto só do que ele fez? E Collor? E Joseph Garibald? E Geisel? E D. Pedro? E Luís Carlos Preste? E Lula? Estavam decidindo e fazendo tudo SOZINHOS?

Em todas as época existem pessoas, homens e mulheres, que fazem coisas boas e ruins, que contribuem com o progresso, com a paz ou com a violência, que vão construindo o dia-a-dia, construindo o país. Getúlio Vargas que me desculpe, mas não precisamos de um pai. Já somos bem crescidinhos. E donos do nosso nariz.

Então precisamos parar de fingir que existe um ser humano, que pode ser a encarnação do bem ou do mal, que vai se sentar na cadeira da presidência e controlar de acordo com seus caprichos o futuro do NOSSO país. Precisamos parar de fingir até para que eles parem de acreditar. Pensando só em termos de Governo, temos três divisões bem siginificativas: Legislativo, Executivo e Judiciário. Temos, além do presidente, senadores, governadores, deputados estaduais, deputados federais, prefeitos e vereadores (além de juízes e promotores que também controlam o poder, ministros e outros altos cargos que também tomam decisões). Alguém aí cobra atitudes dos vereadores? Alguém aí sabe o nome de mais de cinco deputados?

Não estou subestimando a importância da figura do presidente, só estou dizendo (aliviada) que não temos que nos sujeitar a supremacia de uma única pessoa, mesmo que ela seja o presidente do Brasil. A nossa democracia está só engatinhando. Tivemos pouquíssimos presidentes eleitos de forma democrática. Estamos no começo de um processo, ESTAMOS CONSTRUINDO UMA REALIDADE, da mesma forma que o país que somos hoje é fruto da sua construção enquanto colônia, depois como império e assim por diante. Tirando Dilma ou Serra, ainda sobram centenas de pessoas eleitas democraticamente, e mais milhares que podem mudar muita coisa. Como? Eu não sei bem. Eu não tenho a receita, se é isso que você quer saber quando aqueou a sombrancelha ao ler esse texto, e perguntou-se de onde vem tanta ingenuidade.

Mas é mais ou menos isso que eu me pergunto quando vejo a gente acreditando no herói nacional, da mesma forma que a gente achava que o super homem podia mesmo salvar o mundo.

Eu não sei o caminho. Mas eu sei que tem mais de um. Ou melhor, mais do que dois.
Na verdade, como diria Samuel Rosa: O caminho só existe quando você passa.

Postado por: Marcela
 

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