segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A gente se vê

Postado por Infinito Particular às 10:06 1 comentários
Despedir é uma coisa engraçada, se você pensar bem.
Quando a gente diz adeus para alguma coisa, é difícil imaginar o quanto daquilo vai fazer parte da gente daí a algum tempo, e quanto tempo levará para o que a gente deixou para trás desaparecer por completo. Só que essa Filosofia a respeito do quão permanente as lembranças podem ser não é o que incomoda numa despedida.

Na verdade, despedidas não são apenas incômodas. Na maioria das vezes, elas são tristes e gratificantes. Deixam saudade, é claro, e uma falta muito evidente de alguma coisa, mas por outro lado são um dos poucos momentos em que a gente parece poder enxergar o contorno dos ciclos naturais da vida. Quando você se despede, você pára, faz uma reflexão, relembra o que aconteceu, o que poderia ter acontecido, o que você queria que acontecesse. Assim como no final do ano ou no nosso aniversário, é uma daquelas situações em que você parece estar sentado na frente de um computador, assistindo a um vídeo narrado por Pedro Bial, onde vão passando cenas diversas que de alguma maneira tem a ver com a sua vida e com o mundo como um todo. Pelo menos é isso que acontece comigo.

Tem também a questão da saudade. Eu nem sempre gosto de sentir saudade, às vezes eu choro quando sinto saudade, mas a é saudade a coisa que eu mais quero sentir na vida. Porque isso significa que era bom, mesmo que na época em que você vivia o que hoje te faz falta você não gostasse. A saudade é um dos mecanismos mais bonitos da memória, porque nos diferencia de um simples equipamento de armazenar dados. A gente coloca uma carga emocional nas lembranças, e é mais ou menos isso que vai guiando a nossa existência por aí.

Mas o curioso das despedidas é que você também não sabe quanta saudade vai sentir, nem de que jeito ela vai ser. Você não sabe qual o detalhe que vai fazer o seu peito apertar, e nem imagina o que vai simplesmente sumir das suas lembraças. Então quando alguém se despede de alguma coisa ela tenta, involuntariamente, decorar com a maior veracidade possível o objeto da despedida, seja uma situação, um lugar, uma pessoa, uma fase... e aí muitas vezes é só na despedida qua a gente enxerga de maneira crua e nua algo que antes a gente só via sob camadas.

Também é engraçado imaginar que a gente vai ser para quem fica, depois que formos embora. Enquanto estamos presentes somos nós mesmo, e temos um certo (embora ainda pequeno) controle da idéia que os outros fazem da gente. Mas depois que vamos embora viramos uma descrição na cabeça de quem fica, a qual quase nunca temos acesso.

E o mais engraçado de tudo, é que a vida segue. E que a gente já começa as coisas sabendo que terão um fim, de alguma forma. E a gente já termina as coisas sabendo que alguma parte sempre fica, e que novas coisas sempre, sempre vêm.

Postado por: Marcela
 

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