segunda-feira, 4 de julho de 2011

Vale a pena ver de novo?

Postado por Infinito Particular às 08:30 0 comentários
Você já teve a sensação que já tinha assistido um filme anunciado como “inédito”? Você tem a leve impressão de que o mais novo sucesso desse ano é muito parecido com o do ano passado (que agora já está totalmente esquecido)? Essa sensação de “A melhor banda de todos os tempos da última semana”, como já diziam os Titãs, está relacionada a uma situação que tem marcado nossa época: “A Indústria Cultural”.

Esse tema é muuuito complexo, e gerou uma imensa discussão na minha turma de Jornalismo, onde ouvi falar pela primeira vez no assunto. Claro que não vou conseguir trazer para cá toda a profundidade dessa questão, mas acho importante pelo menos levantar o assunto. Então vamos lá! (O que eu usar entre aspas é retirado do texto de Edgar Morrin, um pensador francês que analisou com perfeição vários aspectos da sociedade contemporânea).

A música, o cinema, a literatura, a dança, as esculturas, pinturas e tantas outras coisas são, como todos sabemos, arte; pelo menos se entendermos a arte como essa coisa inexplicável que nos coloca em contato com nossa parte mais humana. Funcionamos enquanto sociedade por meio de aspectos práticos, mas somos sociedade pela manifestação da arte: são nossas danças, nossas músicas e nossos livros que nos fazem ser o que somos.

Bem, depois que a lógica da industrialização já havia tomado conta dos aspectos práticos da vida, nos deparamos com uma “segunda industrialização, que passa a ser a industrialização do espírito”. Surge então uma “Terceira Cultura, que projeta-se ao lado das culturas clássicas e nacionais”. Essa cultura é produzida “segundo as normas maciças de fabricação industrial”. É uma arte que nasce pelo lucro e para o lucro. Não é óbvio que isso constitui um problema? A arte-mercadoria não passa de um entretenimento, e o entretenimento puro e simples não nos coloca em contato com nossa parte mais humana.

Só que na prática o público não sabe disso. Por exemplo, quando surge um novo cantor que dispara nas paradas de sucesso em 5 segundos, ele não conta que para fazer uma música ele pegou um padrão já conhecido de sucesso e fez pequenas alterações, e acrescentou ainda um refrão que “grudasse” na mente do seu público. Na verdade, a ideia é justamente camuflar essa situação. “A indústria de detergente produz sempre o mesmo pó, limitando-se a variar as embalagens de tempos em tempos. Um filme pode ser concebido em função de algumas receitas-padrão (intriga amorosa, final feliz), mas deve ter sua personalidade, sua originalidade. A Indústria Cultural deve, pois, superar constantemente uma contradição fundamental entre suas estruturas burocratizadas e a originalidade”.

Tudo tem muito a ver com o conceito de sucesso: É muito difícil agradar a um público muito grande, porque os gostos e preferências não são homogêneos. Mas como o sucesso hoje em dia tem a ver com quantidade, a Indústria Cultural escolhe temas e formatos que já foram seguramente testados. Por isso é que existe tanta música que fala de amor do mesmo jeito.

E como essa arte industrializada tem recursos e estratégias para ocupar muito espaço, a arte que nasce de forma espontânea e original acaba sendo sufocada. Por exemplo, um cantor sem uma gravadora dificilmente vai conseguir ser reconhecido. Há exceções, é claro. O funk, tão criticado por tanta gente, surgiu de forma espontânea, foi uma criação de um grupo de pessoas. Claro que algumas letras são realmente pesadas, e não é o tipo de música que agrada todo mundo (e a ideia não é mesmo essa). Mas o funk inegavelmente se inspira numa realidade: se as letras incomodam tanto, a realidade de seus criadores deveria receber mais atenção.

Dei o exemplo do funk para mostrar que a diferença entre arte e produto cultural não está na elitização de alguma coisa. Não é porque a MPB está frequentemente associada à classe mais alta que ela é arte. Ela é arte porque é original, porque vai além de um simples entretenimento (na maioria dos casos). Alguns dos maiores e mais conceituados best-sellers são produtos da Indústria Cultural. Isso não significa que você não pode gostar deles, mas significa que não devemos acreditar que o autor levou em consideração apenas sua sensibilidade ao escrever aquilo.

Aos poucos vamos percebendo que muito do que chega para a gente como arte está ligado até o pescoço com a Indústria Cultural. E, embora isso possa parecer desanimador, significa que na verdade existe um número enorme de manifestações artísticas pelo mundo, só esperando que abramos os olhos, os ouvidos e a alma para elas. “Em determinado momento precisa-se de mais, precisa-se de invenção. É aqui que a produção não chega a abafar a criação”.

Ainda há muita coisa a ser discutida em relação a Industria Cultural, mas o mais importante é perceber que merecemos e ansiamos por todas as maravilhas do que é, verdadeiramente, arte.

Postado por: Marcela
 

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