domingo, 19 de dezembro de 2010

Extrapole sua solidariedade

Postado por Infinito Particular às 12:32
Era uma vez um menino.

O nome do menino não importa agora. Sabe-se que era um nome estrangeiro, que se pronunciava de um jeito e se escrevia de outro.
O nome do menino foi escolhido para ele porque seus pais achavam aquele nome o máximo - e queriam o máximo para o filho, pelo menos no nome. Os pais dele achavam aquele nome legal porque a indústria ciematográfica resolveu colocá-lo num personagem de um filme muito famoso. O cara do filme era bonito, forte, inteligente e rico. E tinha o mesmo nome que o menino da nossa história.
Só que o menino não sabia de nada disso. Ele só sabia que tinha um nome, e que isso fazia dele alguém, de alguma forma.

Não se sabe exatamente quantos anos ele tinha, mas era algo entre dois e dez, o que o colocava na geração do celular e do aquecimento global. Ele não tinha computador, nem uma fábrica que lançava gases tóxicos na atmosfera, o que poderia levar um observador qualquer a perceber que ele não participava dos dois assuntos que mais marcariam sua época.
É claro que ele participava, de alguma maneira, dessas duas esferas, mas a verdade é que ele realmente participava muito pouco das coisas. Se pudéssemos desenhar um círculo em volta do sem número de coisas que se pode fazer e ter neste mundo, o menino ficaria do lado de fora da linha.

Mas o menino não sabia disso. Ele sabia que se ficasse doente teria que enfrentar fila no hospital, e que se chovesse demais o barranco poderia ceder. Ele sabia que não era para pedir chocolate quando fosse na padaria, que a roupa que usava já tinha sido do irmão e que ia nascer mais um bebê na casa.

Ele não imaginava que muito do que era a vida que ele vivia extrapolava escolhas e méritos dele e da família dele. Ele não sabia que estava do lado de fora da linha, mesmo porque ele não entenderia o porquê da existência da linha. As crianças não entendem coisas sem sentido e sem justificativa.

Aconteceu que um certo dia, o menino foi brincar num lugar onde viu coisas muito diferentes do que estava acostumado. Haviam várias pessoas, como em todos os lugares, mas elas não estavam correndo, nem brigando, nem fazendo coisas importatíssimas para pessoas importantíssimas. Elas estavam simplesmente desejando que o menino brincasse.

O menino não sabia que aquilo era uma coisa pequena - tão pequena! -  que não atingia nem a metade das pessoas que estavam na mesma situação que ele. Ele não sabria que os problemas extrapolavam o alcance daquelas pessoas, e extrapolavam o que elas podiam fazer.

Mas o menino sabia que, se existissem várias pessoas como aquelas em vários lugares diferentes, então aquilo que elas faziam é que iria extrapolar os problemas dos quais tanto se falava.
Ele sabia porque as crianças sabem as verdades que a gente diz que procura.

E então, naquele dia, o menino não sabia de muitas das coisas que talvez um dia contem a ele - ou ele perceba sozinho, quando crescer.
Ele só sabia que estava muito, muito feliz.

E, por estar feliz, ele sabia que era Natal.

(Extrapole sua solidariedade)
http://www.papainoelmirim.com.br/

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