sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O importante não é dar primeiro, é dar gostosinho

Postado por Infinito Particular às 06:52 0 comentários
Calma !
Não precisa tirar as crianças da sala, nem censurar o acesso deste blog para menores.
O assunto que vamos tratar aqui não é isso (ou melhor, aquilo) que pode parecer num primeiro momento.
Estamos falando de notícia.
A frase título deste post foi dita por Marcelo Tas, jornalista e apresentador do CQC, ontem à noite, numa palestra promovida pelo Uni Bh. Foi uma conclusão dada à fala de Caco Barcelos, apresentador do Profissão Repórter, que declarou que o furo de reportagem já não é mais o sonho dourado de todo jornalista. Ao que parece, a qualidade vem superando em importância a velocidade da informação.
Embora este tema seja próprio do meio jornalístico, queria destacá-lo aqui enquanto leitora, ouvinte, internauta, enfim, enquanto receptora da informação. Todo mundo sabe que o furo de reportagem é aquela notícia fresquinha, que ainda não foi dada por nenhum veículo de comunicação. Há algum tempo atrás chegar na frente fazia sentido, realmente. Mas hoje em dia é praticamente impossível concorrer com a velocidade da internet, onde a notícia chega quase que instantaneamente, pois pode ser dada por pessoas comuns, que estavam presentes na hora do ocorrido. E isso é bom !
Acontece que nem sempre essa notícia, dada com tanta agilidade, respeita os princípios éticos da verdade e da imparcialidade. E depois de checar a veracidade da informação, a mera descrição da notícia não é mais suficiente. Eu já sei o que aconteceu: me conte algo que me surpreenda.
Então podemos atingir um patamar que finalmente vai dar sentido à toda essa velocidade da informação. Saber já não será o suficiente; o importante será conhecer. Informar que um jovem morreu em um grave acidente numa rodovia federal é muito pouco, porque provavelmente o leitor já sabe. E é aí que o jornalista terá abertura para questionar por que tantos jovens morrem em acidentes de carro, porque as rodovias continuam em péssimo estado apesar dos altos impostos, quantas pessoas morrem nas estradas, e quantas poderiam deixar de morrer se as pessoas não dirigissem alcolizadas, o que foi feito pelo família do jovem, o que você que está lendo essa reportagem pode fazer para mudar essa realidade?
"Dar gotosinho" significa sair de uma camada superficial e mergulhar na notícia de maneira que suas raízes sejam vistas, e, quem sabe assim, os problemas possam ser realmente solucionados com a ajuda da comunicação.

Postado por: Marcela

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Que é um jornal?

Postado por Infinito Particular às 06:31 0 comentários
Fred. J. Curran, do Wiscousin Journal

Publicado no Correio da Manhã, em agosto de 1963



- O que é um jornal? perguntou a menina.

É um papel cheio de palavras e fotografias.

É feito de muita gente, de gente como nós.

É uma grande notícia ou uma pequena notícia, sobre povos distantes e o povo que mora ao lado.


É felicidade e tragédia, riso e choro, é uma canção muitas vezes repetida.

É o governo, do presidente ao Congresso, do governador à legislatura, do prefeito ao conselho municipal, e em todas essa ramificações, um olhar inquiridor sobre seus atos.

É a polícia, o bombeiro, e outras ocipações perigosas.

É o negócio, é indústria, é vitrine para os comerciantes apresentarem seus produtos. É anúncio à procura de um cachorrinho desaparecido.

É registro de tudo o que acontece ao povo; de quem fez algo, quando onde e por quê.

É a descrição de um vestido de noiva; é recém-casado procurando apartamento.

É boas-vindas a um novo pastor, é culto à Igreja, é adeus a alguém que se retira depois de longos serviços prestados.

É o longo caminho, a volta ao lar, o escore de boxe, é a partida de futebol.

É a sugestão para uma receita, um plano para melhorar seu lar, um pequeno conselho a alguém aflito.


É a primeira neve que cai, o amanhecer da primavera, o dia mais quente do ano. É também o rio tortuoso como as beiras das folhas que caem no outono.

É a lida diária do jovem que vai e volta da escola; o que faz e aprende com os professores. É parque, férias e lugar para passear e como chegar lá.

É a praia, o bom cantinho de pesca no verão, é o ficar sem fazer nada.

É a produção e o progresso, o novo e o velho produto.

É ajuda e serviço´profissional, é a notíia do que se faz nos hsopitais e nas clínicas.

É um boletim sobre a Igreja, o Templo e a Sinagoga.

É a notícia de uma organização de veteranos, serviços de clube, é um chá à tardinha.


É a maior coletânea de palavras e fotografias já reunida.

É a grande estória, a pequena estória e a ficção.

É o retrato, a fotografia crua, a página fotográfica de grandes acontecimentos. É a opinião do redator, a divergência do leitor, o pensamento do colunista. É a explicação de muitas coisas. É o jogo de palavras cruzadas, a página cômica, o quebra-cabeças.

É um estilo nem sempre literário porque representa a linguagem do povo. Porque grande parte dele é o que o povo diz.


É um redator com seu chapéu engraçado de papel, um linotipista colocando habilmente os tipo lado a lado, um agente de publicidade convencendo o anunciante a contar a sua estória, um repórter batendo à sua máquina, é o jornalista tirando cópias e preparando os cabeçalhos, é um fotógrafo tentando um último instantâneo. É um pequeno jornaleiro assoviando pelas ruas às quietas horas da madrugada.


é um espelho da vida. Uma parte da vida tão importante quanto o relógio e o calendário. É o papel cheio de palavras e fotografias.

Como este.
Postado por: Marcela

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Moeda também é dinheiro

Postado por Infinito Particular às 16:40 0 comentários
Uma homenagem à Wanessa e Cibele

Da mesma maneira que dividiram o dia em horas, as horas em minutos, os minutos em segundos, e dái por diante; da mesma forma que subdividiram o país e os estados; do mesmo jeito que nos colocam num departamento exclusivo de roupas infantis de um bichinho de um desenho dentro de uma loja; da mesma maneira que os físicos pegaram a esfera maciça e "indivísivel" e picaram em mais um número incontável (e inexplicável) de pedacinhos; da mesma maneira que a nossas mães viram mil (mas continuam sendo uma só, como eles insitem em repetir); do mesmo jeito que dividem a gramática, as religiões, as nuances de uma cor e praticamente tudo mais, o dinheiro também tem subdivisões. Mas esqueceram de avisar pra muita gente.

Eis que estávamos eu e duas colegas em um supermercado comprando um lanche para umas 15 pessoas. É claro que o dinheiro era proveniente de uma vaquinha, e uma vaquinha de fim de mês, o que significa que era uma vaquinha bem magra e sofrida. Mas lá estava ela. Em moedas, para ser mais exata. De 10, 25, 5, algumas de um real e, inacreditavelmente, algumas de 1 centavo. Todas reunidas em uma caixinha resultavam em dinheiro, do mesmo que todo mundo ali tinha.

O primeiro olhar mal encarado veio da moça que fica pesando as frutas, quando paramos do lado dela para contar as moedinhas. O segundo foi do moço do frigorífico, quando fomos lá trocar as bandejas de presunto por algumas que estivessem mais baratas, logo após constatar que a vaquinha era mesmo magra.
Sempre me incomodou essa história de olhar torto pra moeda, porque, uma vez que vivemos num regime capitalista onde o valor das coisas é traduzido em dinheiro, temos que aceitar também as moedas. Mas tem gente que tem vergonha de andar com moedinha! Vergonha tem que ter é quem anda com dólar na cueca.

Continuando nossas compras, chegamos no caixa felizes e realizadas por termos conseguido comprar as coisas, depois de rebolar e fazer várias substituições. A caixa olhou incrédula para a nossa caixinha, mas contou as moedas sem dizer nada. Já a mulher que estava atrás de nós na fila soltou um longo suspiro de impaciência diante da cena, o que atraiu a atenção do restante da fila, que espichou o pescoço para ver a caixa contando as moedas. E a mulher estava comprando um maço de cigarro, tá? Eu é que devia estar impaciente com ela, sabendo quanto dinheiro público (por consequência, meu dinheiro também) é gasto na saúde para tratar de pessoas que fumam.

Mas ao invés de dizer isso para ela, nós só rimos, brincamos que tínhamos assaltado o cestinho da igreja e acrescentamos uma verdade incontestável: a gente, moeda também é dinheiro.


Postado por: Marcela

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tudo se Ilumina

Postado por Infinito Particular às 05:48 0 comentários
Não existe uma maneira de contar uma história triste que não seja uma maneira triste. Eu já sabia disso.

Mas existem muitos jeitos de contar uma história triste, e embora seja impossível fazê-la feliz, é perfeitamente possível fazê-la boa. Mesmo com toda dor, ela pode iluminar.

O que mais me intrigava em "Tudo se Ilumina" é que eu nunca encontrava uma opinião sobre o livro que não incluísse trechos. As pessoas falavam, tentavam descrever a história e os efeitos nelas causados pela história, mas sempre acabavam reproduzindo algum pedaço do livro.

Hoje eu entendo perfeitamente a incapacidade de falar dessa obra sem deixá-la falar por si mesma também. Descrevendo de maneira muito superficial: O autor, Jonathan Safran Foer, viajou para a Ucrânia com a intenção de encontrar a mulher que salvou seu avô (um judeu) dos nazistas. Ele só sabia da existência dela por uma fotografia. Jonathan não a encontrou, então resolveu inventar uma história. Assim, é um livro de ficção, mas tão cheio de realidade e verdade que chega a ser incômodo.

Esse foi o primeiro trecho pelo qual eu me apaixonei, na primeira vez que ouvi falar do livro:

“Era esse o mundo em que ela crescia e ele envelhecia. Os dois criaram para si mesmos um santuário longe de Trachimbrod, um habitat completamente diferente do resto do mundo. Nenhuma palavra de ódio era jamais pronunciada, e nenhuma mão erguida. Além disso, nenhuma palavra raivosa era jamais pronunciada, e nada era negado. Mas além disso, nenhuma palavra sem amor era jamais pronunciada, e tudo era revelado como uma pequena prova de que pode ser desse jeito, não tem que ser daquele jeito; se não há amor no mundo, faremos um novo mundo, dando-lhe paredes fortes e macios interiores vermelhos, de dentro para fora, e uma aldrava que ressoe como um diamante caindo no feltro de um joalheiro, para que jamais a ouçamos. Dê-me amor, pois o amor não existe, e eu já experimentei tudo que existe”.

Esse trecho fala de como viviam Yankel, um senhor de idade e Broad, uma menina que ela adota recém nascida. A parte da história que narra a chegada de Broad à casa de Yankel é assim:

"O agiota desonrado Yankel D levou a menininha para casa naquela noite. Agora, disse ele, vamos subir o primeiro degrau. Aqui estamos. Esta é sua porta. E esta é a sua maçaneta, que eu estou abrindo. E aqui é o lgar onde pomos os sapatos quando entramos. E aqui é o lugar onde penduramos os casacos. Ele falava como se ela conseguisse entendê-lo, nunca em tom agudo ou em monossílabos e nunca com palavras sem sentido. Isto que eu estou lhe dando é leite(...). Esta é a minha mão alisando seu rosto. Algumas pessoas são canhotas e outras são destras. Ainda não sabemos o que você é, porque você só fica sentada aí e deixa que eu faça tudo... Isto é um beijo. É o que acontece quando os lábios são comprimidos e encostados em alguma coisa, às vezes outros lábios, às vezes uma bochecha, às vezes outra coisa. Depende... Isto é o meu coração. Você está tocando nele coma a mãoesquerda, não porque seja canhota, embora talvez seja, mas porque eu estou segurando a sua mão junto ao meu coração. O que você está sentindo é o batimento do meu coração. É isso que me mantém vivo."

A história é intercalada com narraçãoes muito engraçadas de Alex, o tradutor e "guia" de Safran. Alex fala de um jeito distorcido, exatamente como se fosse um inglês traduzido com imperfeição. Aqui um diálogo entre ele, dentro do carro:

"- Bom, podemos abaixar as janelas? Esta muito quente aqui dentro, e parece que alguma coisa morreu.
- Sammy Davis, Junior, Junior vai pular para fora.
- Quem?
- A cadela. O nome dela é Sammy Davis, Junior, Junior.
- Isto é uma piada?
- Não, ela verdadeiramente partirá do carro.
- Estou falando do nome dele.
- O nome dela - retifiquei-o, pois sou de primeira categoria em pronomes. (...)
- Por favor, podemos abaixar a janela? - disse o herói. - Não aguento mais esse cheiro.
Ao ouvir isso, me rendi à humildade e disse: - É só Sammy Davis, Junior, Junior. Ela produz peidos terríveis aqui dentro, porque o carro não tem amortecedores nem longarinas mas vai pular para fora se abaixarmos a janela. E precisamos dela, que é cadela-guia do nosso motorista cego, que também é o meu avô. O que você não compreende?"

Mais um trecho, dessa vez de uma parte já avançada da história, onde o avô de Safran é o personagem central:

"Eles trocavam bilhetes, como crianças. Meu avô fazia os seus com recortes de jornais e joagava-os nas cestas de vime dela, nas quais sabia que só ela ousaria meter a mão. Encontre comigo debaixo da ponte de madeira, e eu lhe mostrarei coisas que você jamais viu. O "E" vinha das tropas que tirariam a vida da mãe dele: EXÉRCITO ALEMÃO AVANÇA PARA A FRONTEIRA SOVIÉTICA; os dois "N", da frota de guerra que se aproximava: NAVIOS NAZISTAS DERROTAM FRANCESES EM LESACS (...) ... e assim por diante, cada bilhete uma colagem do amor que jamais poderia ser, e da guerra que podia."

Existem muitos outros techos surpreendentes e lindos, mas vou para por aqui. E assim, Tudo se Ilumina vai falando por si mesmo, contando uma história triste e encantadora, e tão profunda quanto deve ser uma narrativa sobre o holocusto e uma reflexão sobre o amor.

Postado por: Marcela


 

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