sábado, 24 de março de 2012

Sei lá.

Postado por Infinito Particular às 15:00 0 comentários
Incomode. Seja resiliente quando todos parecessem feitos de concreto. Quero ver o brilho nos teus olhos, por trás de toda a cor cinza que polui a cidade. Na segunda-feira, acorde depois que o sol partir. Caminhe sobre os trilhos, deixe o trem desvie de você. Abra teus olhos debaixo d’água. Veja claro como um cristal. Passe sua sexta-feira num parque, no topo de uma montanha-russa, vendo a correria correr lá em baixo. Vendo o tempo se esgotar a cada passo. Disseram às nove? Não se levante antes das dez. Trabalhe sábado e domingo, só porque você ama trabalhar, você ama o que faz. Hoje o dia é seu. Vamos lá, pé ante pé. Quando o vento cortar sua face, sinta a sutileza da vida. Do amar, do sonhar. Pise nas pontas do pé, rodopiando até a cabeça girar com você. É teu mundo girando, então deixa girar. Deixar o tempo passar, deixa a si mesmo ser. Não ouça os tabus gritados dos altos dos prédios. Quem foi que disse que é certo comprar pra ser? Quem foi que disse que sobreviver é viver? Quem deixou morte virar estatística?  Quem deixou você ignorar o bem, enquanto o mal vende jornal, estampa manchete? Quem foi que disse que animal é irracional? E quem foi que disse que é inútil flutuar? Incomode. Só hoje, tire os pés do chão.


Postado por: Jéssica.

domingo, 11 de março de 2012

Papel e caneta à mão.

Postado por Infinito Particular às 07:43 0 comentários
Estou sempre de papel e caneta à mão. Não se assuste não quero te entrevistar, vida. Não farei perguntas maliciosas, ou nem te jogarei contra a parede. Quero apenas estar preparada, estar a postos. Quero apenas anotar, cada cena, cada comentário. Quero não me esquecer das deixas, das queixas, dos canários.

Folheei algumas páginas desse meu caderno de anotações, e deixei sorrisos escaparem do canto dos lábios. Deixem lágrimas borrarem o 'o' da dor. Ah, e é claro, as anotações de rodapé, cheias de risadas sonoras, confetes jogados no ar, cabelos rodopiando, rodopiado, jogados, descabelados. Ainda sinto o perfume das rosas que descrevi, que despetalei, que quis bem-me-quer. Oh, e a aspereza dos calos não me assustam quando vejo quantas palavras ricas a experiência trouxe. O que me arremete ao som dos dedos teclando sedentos, pra falar, falar e falar  - e como esses dedos falam. Que página suja é essa? Será isso a lama em que o branco se afundou em que as mãos se entrelaçaram e fizeram arte? Essa mesma lama que sua mãe gritou que lhe fizera perder a camisa novinha, presente da tia? E por falar nisso, onde será que anotei sobre os discos velhos, apinhados de poeira, detentores de tangos tão tradicionais quanto apaixonados, que fizeram teus sapatos gastos riscarem o chão da sala? História que ouvi centenas de vezes minha mãe contar, “ainda lembro-me da minha madrinha dançando desse jeito aí ó, lá nos bailes; era a coisa mais linda.”

No chão riscamos à giz os desenhos de uma família feliz. Dos trecos e velharias, fiz brinquedos que brincaram minha infância inteira comigo, e duraram mais do que aqueles caros, comprados pelo papai Noel – ainda tenho alguns rascunhos de cartas que lhe escrevi, meu bom velhinho.

E cá está meu agradecimento eterno ao meu criado mudo, por sem dizer nada, sempre estar lá ao meu lado, dando luz à meia noite no meu quarto, quando a insônia não dava descanso aos meus olhos. Esses olhos cansados, porém atentos. Guardados atrás de lentes que me ajudam com esses 4 graus de miopia. E o que os olhos não veem, o coração sente sim. Ele vibra diante de um grito daquela torcida pouca, mas boa, que se uniu no Bonfim. Ele grita, tão ou mais alto que a música, samba-de-raiz, que sacode meus pés, às vezes antes mesmo que eu perceba. E vou sambando, se Deus quiser, até o anoitecer. Diante da lua, fiz algumas juras de amor. Que ela não tenha ouvido todas, ou quem vai pensar que sou?

Dizem que sou louca, exagerada, vazia, grossa, inspirada, criativa. E vão dizendo, dizendo, dizendo. Mas o que eles não sabem é que vou aqui escrevendo na memória, às vezes falha, cada pedaço de mim. Porque é isso que amo na “escrita”: poder ser eu em cada cantinho.

Às vezes não sei explicar por que levo à mão papel e caneta. Mas meu coração bate feliz em dizer que, na verdade, que mesmo depois de escrever tanto, ainda estou em branco.




Postado por: Jéssica.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Saudade - A mulher por Veríssimo

Postado por Infinito Particular às 14:33 0 comentários
Foi difícil, quase impossível, escolher apenas um texto de Luís Fernando Veríssimo sobre mulher. Difícil mesmo! Tanto que sugiro que você jogue no Google “crônicas de Veríssimo” para entender do que eu estou falando. O mestre do cotidiano é também o mestre do universo feminino. Acabei ficando com “Saudade”, que foi uma das primeiras crônicas que li, e que revela toda a maestria do autor. Inspirado, é claro, pelas mulheres.

 Luís Fernando Veríssimo é conhecido por suas crônicas e textos de humor, mais precisamente de sátiras de costumes, publicados diariamente em vários jornais brasileiros. Verissimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancista bissexto. E A NOTÍCIA BOA é que ele vai estar em BH amanhã, lançando seu livro "Em algum lugar do paraíso". A entrada é gratuita e os primeiros livros serão vendidos por R$5. #OMG!

 A ilha só não era ilha deserta de cartum porque em vez de uma palmeira tem várias. Mas no resto é igual. Os náufragos são dois. Dá pra ver o tempo que estão na ilha pelo comprimento das suas barbas, e as barbas batem no joelho. Estão falando sobre mulher.
     --Tem um ponto, acho que é aqui no pescoço - faz tanto tempo - em que todas cheiram igual.
     --Bobagem. Cada uma tem um cheiro diferente.
     --Não, não. Tenho certeza quase absoluta. É aqui, nesta dobra. Um cheiro, assim, doce. Todas.
     --E você cheirou todas?
     --Todas as que eu conheci tinham o mesmo cheiro aqui. Eu enchia as narinas, meu Deus. Eu...
     --Não vá começar a chorar outra vez. Você prometeu.
     --Sabe o que é que eu me lembro? O antebraço.
     --Onde é que ficava isso?
     --Aqui em cima. O antebraço é a coxa do braço. O braço era aqui embaixo.
     --Não é o contrário?
     --Não importa o nome. Aquela parte carnuda, em cima.
     --Já localizei. O que que tem?
     --É a parte da mulher que envelhece mais devagar.
     --Você está delirando.
     --É fato. Quando a mulher é nova, a carne ali é rija. Depois de uma certa idade ela perde a rigidez, mas não fica flácida logo. Fica, assim, cheia. Roliça.
     --História.
     --Até nas magras, aquela parte é carnuda. Nunca conheci uma magra que não tivesse, pelo menos ali, um montinho remissor. Alguma coisa onde se meter os dentes.
     --Lembra as magras de peito grande?
     --Lá vem você com peito.
     --Sempre fui um homem de peitos.
     --Está bem, está bem. Mas não generaliza. Pense naquela curva aqui, saindo da axila e inchando suavemente, suavemente... Dizem que não existem dois seios iguais no mundo.
     --Como que não? Pelo menos dois tem que haver.
     --Não há! Não é fantástico? O esquerdo é diferente do direito.
     --Vem com essa. Só porque cada um olha para um lado.
     --Não. São diferentes. Têm personalidades diferentes, tudo.
     --E eu tenho que agüentar...
     --Lembra nuca?
     --Nuca...
     --Quando elas puxavam o cabelo para cima, sempre sobravam uns fios na nuca.
     --Puxa, eu tinha me esquecido da nuca.
     --É onde a mulher tem o cabelo mais fino.
     --Não vem com teoria.
     --A curva do ombro. As costas quentes. Aquele ponto onde ainda não é a nádega mas já há uma elevação, um prenúncio...
     --A junção da nádega com a parte de trás da coxa...
     --Ah, aquela prega.
     --Não tinha prega nenhuma.
     --Como que não? Uma espécie de subnádega. Cansei de ver.
     --Nas suas, talvez. Que eu me lembre, terminava a nádega e começava a coxa, direto.
     --Por amor de Deus. E aqueles riscos que tinham embaixo da nádega, o que eram? Bigodes?
     --Nunca vi risco nenhum.
     --Porque você não prestou atenção. Só via peito.
     --Está bem, concedo a prega.
     --Agora, formidável era como a frente da coxa se projetava, lembra?
     --Mmmm.
     --A curva das coxas se salientava. Era uma curva longa, do quadril até o joelho. Um leve arco protuberante.
     --Dos joelhos, sempre preferi a parte de trás.
     --Os vãos. Exato.
     --Nas coxas, às vezes, você não via, mas olhando de perto notava uma leve penugem.
     --Tão leve que passando a mão, não se sentia.
     --Muitas raspavam as pernas.
     --Às vezes ficavam cortes. Pequenos cortes.
     --Isso. Criavam casca.
     --Só olhando bem de perto a gente via.
     --A pele macia e aquele cortezinho. Pobrezinhas.
     --A pele macia...
     --A perna atrás. Do vão dos joelhos até o tornozelo.
     --O tornozelo. Enrugadinho, mas lindo.
     --O dedinho do pé, sempre meio encurvado para dentro.
     --Todo aquele grande trecho do pescoço, da orelha até o ombro.
     --Orelha!
     --A boca.
     --Não fala.
     --O lábio inferior um pouquinho maior que o superior.
     --Os dentinhos, às vezes saltados. Mmmm.
     --A gente encostava a cabeça num seio e ouvia o coração.
     --Era morno. Tudo era morno.
     --Aquelas duas entrâncias na base das costas.
     --O umbigo...
     --Ah...
     --Você prometeu que não ia chorar mais.
     --Por que você foi falar no umbigo?

VERÍSSIMO, Luis Fernando. A velhinha de Taubaté. Porto Alegre: L&PM Editores, 1983.

sábado, 3 de março de 2012

Benditas sejam as moças que pedem gostoso

Postado por Infinito Particular às 17:17 0 comentários
E benditos sejam os homens que sabem captar os detalhes da alma feminina!
Como prometido, Xico Sá e as mulheres que pedem gostoso.


>Xico Sá é um jornalista e escritor brasileiro. Começou a carreira no Recife e é atualmente colunista dos jornais Folha de S. PauloDiário de PernambucoDiário do Nordeste,O Tempo, de Belo Horizonte e Correio da Bahia.




"Como ia dizendo, como elas pedem gostoso.
Como elas são boas nisso.
Resistir, quem há de?
Um simples “posso pegar essa cadeira, moço?” vira um épico, noooosa!
É o jeito de pedir, o ritmo safado da interrogação, a certeza de um “sim” estampado na covinha do sorriso.
Quantos segredos se escondem na covinha de uma mulher.
Pede que eu dou.
Pede todas as jóias da Tiffany´s, minha bonequinha de luxo!
Estou pedindo: pede!
Eu imploro, eu lhe peço todos os seus pedidos mais difíceis.
Pede todos os vestidos originais de Yves Saint Laurent. Todas as bolsas caras e metidas da Chanel ou Louis Vuitton? Pede que eu compro nem que seja uma pirata no camelô.
Não me pede nada simples, faz favor.
Já que vai pedir, que peça alto. Você merece.
Como é lindo uma mulher pedindo o impossível, o que não está ao alcance, o que não está dentro das nossas posses.
Podemos não ter onde cair morto, mas damos um jeito, um truque, um cheque sem fundos.
Até aqueles pedidos silenciosos, quando amarra a fitinha do Senhor do Bonfim no braço, são lindamente barulhentos.
Homem que é homem vira o gênio da lâmpada diante de uma mulher que pede o impossível.
Ah, quero o batom vermelho dos teus pedidos mais obscenos. É Wando que se recebe.
Quero o gloss renovado de todas as vezes que me pede para fazer um pedido, assim, quase sussurrando no ouvido: “Amor, posso te pedir uma coisa? Posso mesmo?”
Um castelo na Inglaterra?
Sim, eu dou na hora.
Que o Corinthians seja campeão da Libertadores?
Sim, eu opero o milagre.
Como no pára-choque, o que você pede chorando que não faço sorrindo?!
Um papel de estrela no novo filme de Almodóvar?
Deixa comigo que já tomo um drinque com ele e adiós.
Pede, benzinho, pede tudo.
Que eu largue a boemia, pare de beber e me regenere?
Pede, minha amada, que o amor tudo pode, por você cumpro as promessas de todos sambas de regenerados.
Que eu suba na pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, e declame os mais lindos poemas de amor verdadeiro?
Só se for agora, estou indo.
Os melhores cremes da Lancôme? Vou a Paris agora, nem que seja a nado.
Eu lhe peço, me pede.
Não pede mimos baratos… Pede ATENÇÃO, por exemplo, a mercadoria fora de catálogo e a mais cara do mundo no momento".
Fonte: http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/

Postado por: Marcela

sexta-feira, 2 de março de 2012

Eita gostinho gostoso !

Postado por Infinito Particular às 14:47 0 comentários
Encantam-me os finais felizes. Mas não os de contos de fadas. Gosto desses finais tortos, inesperados, sem qualquer plano, qualquer expectativa. Gosto do quanto podem ensinar. Gosto que me mostrem que a vida nem sempre vai ser como eu minuciosamente desenhei em minha mente, eles podem ser lindos. Lindamente imperfeitos. 

Gosto desses erros tão naturais que chegam a ser bobos. Dessa nossa tragédia cômica, desse nosso dia a dia. Dessa bossa-nova, já tão velhas em nossos ouvidos. Da comida saborosa, especial dos domingos. Dos encontros em família, das esperanças renovadas. Das datas tão especiais, que nos permitem tudo. E com tudo, digo sermos mais humanos. Sermos o carinho sem ganância. O dar sem esperar. O sorriso cru, sem nada mais. Gosto do rock gritado, do samba suado, do ‘to nem aí, quero mesmo é me divertir’. Nem sempre gosto de uma novela, mas gosto de ver como assistem a ela, do roer das unhas pelo final da mocinha. Gosto dos primeiros passos de um bebê, mas gosto também dos tropeços de quem teve que reapreender o que parecia tão simples – eles são a vitória mais glorificada. Gosto da união das mãos, e do fechar suave dos olhos, em procissão de fé. Gosto da fé, si. Ela já é um mundo de coisas. E por falar em um mundo, me lembro das coisas mundanas. Lembro-me das mudanças. De largar um compromisso inadiável, pra ganhar um abraço inesquecível. Gosto do riso que faz a barriga doer, e do choro que faz o mundo deixar de pensar sobre as nossas costas. Gosto, gosto, gosto... e posso gastar páginas me fartando dessas gostosuras.

E até quando não gosto, entre caretas e xingos, aprendo a gostar, porque querendo ou não, escolhendo ou deixando levar, essa é a vida. Vida da qual não espero mais nada além de viver dessas pequenas felicidades. E posso gostar de finais felizes, mas eu amo ‘meios’ felizes.

Postado por: Jéssica.

Costela de Adão

Postado por Infinito Particular às 08:13 0 comentários
Está chegando o Dia Internacional da Mulher. Sim, o dia dedicado à mim, à sua mãe, e à Angelina  Jolie. O dia da costela que, fora de Adão, realmente não parece ter saído dele. O dia da mulher é um dia de comemoração.
Mas de luta também, amorzinho, da bandeira da igualdade desfraldada na alma, pra que eles nunca mais esqueçam. É tempo de lutar, ainda. Mas não devia todo mundo saber que homens e mulheres são iguais, em direitos e deveres? Deveria, mas o mundo ainda engatinha. É preciso se fazer muito. Serão precisos ainda muitos oitos de março para a gente lembrar que dia da mulher é todo dia. E do homem também. Ainda será preciso contar muita história, de Simone de Beauvoir à Maria da Penha, para provar que os tempos mudaram. A sociedade evolui, gracias! O mundo está aprendendo sobre a mulher.
Espero pelo dia em que a questão da igualdade civil estará tão seguramente garantida e explicada à todos que poderemos nos dedicar sem culpa à discutir as deliciosas minúcias da existência feminina. O dia em que as pessoas vão aprender que quem ama não machuca, que fragilidade não tem sexo, que não há diferença moral entre um homem “pegador” e uma mulher “galinha”, e que os comportamentos femininos e masculinos devem ser condenáveis e exaltados na mesma proporção. Dia doce o dia em que o 8 de março será mais uma festa de se relembrar a história, e não de se dizer: “Ainda temos muito a fazer...”.
Minha ideia original era debater o sem número de assuntos que são - e devem ser - levantados no Dia Internacional da Mulher. Mas vamos fazer diferente. Vamos dar um passo à frente e falar não da luta da mulher, mas da sua graça, dos seus caprichos, da sua capacidade de ser divina.
Porque homens e mulheres são diferentes. Iguais em direitos, deveres, punição, perdão, intelecto, talento para pilotar o carro e o fogão. Mas são diferentes, felizmente, em muita coisa.
Afinal, o que querem as mulheres? Queremos justiça, em primeiro lugar. Queremos a concretização das promessas dos oitos de março. Depois queremos a liberdade de ser mulher, a mulher de Vinícius, de Botticelli, de Veríssimo, do Chico. A mulher de Adão, que daria todas as suas costelas para entender pelo menos um pouquinho da mágica.



Até o dia 8 de março, vou postar aqui no blog algumas das mais deliciosas crônicas e textos sobre a mulher. Amanhã tem Xico Sá. Aguardem!


Postado por: Marcela
 

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