sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Pra você correr macio

Postado por Infinito Particular às 06:48 0 comentários
Tempo, tempo, mano velho

Falta um tanto ainda, eu sei
Pra você correr macio...



Nunca gostei de relógios de pulso, e hoje sei que não era uma simples implicância estética minha. Na verdade, me assusta a idéia de ter essa medição tão abstrata – medição do tempo, vejam só! – ali, coladinha na minha pulsação.


É claro que saber as horas é importante, mas não acho que seja tão fundamental saber as horas o tempo todo, mesmo porque elas são simplesmente uma convenção. Carregar o relógio no pulso traz para as pessoas a falsa sensação de poder controlar o tempo – ou de pelo menos ter um “aliado” na luta contra ele.

Lutar contra o tempo é uma coisa que a gente faz constantemente, e às vezes eu tenho a certeza de que seria muito mais saudável apenas deixá-lo passar, sem que isso parecesse significar tantos “e se” como tem sido para nós. E se eu não conseguir depois? E se eu mudar e me arrepender? E se quando eu estiver velho eu não me orgulhar de nada? Bem, e se a gente parar de tentar controlar nosso futuro e prestar mais atenção no presente? (não estou mandando ninguém “viver o agora” sem responsabilidade e sem medidas, pelo amor de Deus. Só estou falando que coisas boas, saudáveis e felizes são conseqüências de práticas boas, saudáveis e felizes. Sofrer para tentar ser feliz é muito ilógico, convenhamos).

Mas não era essa a questão sobre o tempo que eu queria tratar aqui. Eu só queria registrar uma impressão que tem me incomodado profundamente. O tempo tem fugido, sabe. Corrido de mim, virado a esquina rápido demais, escorregado por entre as minhas mãos. Claro que eu falo disso em sentido figurado: o tempo está lá, como sempre esteve, embora eu não saiba muito bem como é. A culpa é minha, ou da sociedade em que vivo, ou de nós duas ao mesmo tempo. Eu sei que estou fazendo isso de um jeito errado, mas os únicos jeitos certos que conheço são justamente os considerados “errados”.

De qualquer maneira (voltando de novo), tenho me sentido tão sem tempo que não tenho tempo nem para refletir sobre o assunto. Existe uma frase que diz “Os dias são longos, mas os anos são curtos”. Para mim parece o contrário: só vejo resultados quando olho para os anos, mas no dia a dia não realizo nem metade do que me proponho. “Como arranjar tempo para as coisas importantes enquanto as urgentes estão sendo feitas?” Com essa eu concordo totalmente.

Coisas importantes têm ficado de lado, inclusive escrever (que eu tanto amo) no meu blog (que eu tanto amo). Outras coisas importantes tem ficado de lado. A matemática, a filosofia, os grandes autores e obras literárias, as reflexões de Marx a respeito do capital, as ponderações do Dalai Lama, as receitas culinárias, sair pra passear com o cachorro, os ensinamentos chineses sobre meditação, aprender a tocar guitarra e as melodias de Bob Marley. Tempo, só para as coisas urgentes, como achar o pé direito do sapato antes de sair, formatar um trabalho segundo as regra das ABNT, e assistir as comédias sem graça que todo mundo vai comentar no dia seguinte.

Postado por: Marcela
 

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