quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Mensagem de Natal

Postado por Infinito Particular às 17:38 1 comentários

Fiquei pensando nas mensagens de Natal que poderia escrever para tocar: decidi escrever sobre Deus. Não sobre a entidade, mas sobre o sopro que sei que existe, não sei como nem porque nem onde nem quando.
Queria falar sobre Deus, mas não sobre o que nasceu na manjedoura 2011 anos atrás. Quero falar do Deus que nos socorre quando tudo dá errado nessa vida moderna estranha e cheia de falhas que a gente resolveu inventar. 

Muitas das pessoas que eu admiro e que falam com propriedade do desenvolvimento humano e da justiça social são ateus. Não vou deixar de admirá-los por isso. Por outro lado, não vou negar minha fé. A razão não é o oposto do transcendental, como não é o oposto do sentimental, mito que existia e já caiu. Acredito em Freud, em Darwin, em Marx e em Deus. Acho ótimo que a gente tente explicar pela ciência coisas que a religião insistia em falar que eram assuntos divinos. Não quero Deus para o inexplicável: quero Deus para o cotidiano, límpido e transparente.

Minha fé é majoritariamente católica, mas passa por várias outras crenças e cria caminhos novos que ainda não foram rotulados em nenhuma religião. Para muita gente posso até ser considerada herege. Mas suspeito que é essa liberdade de acreditar que sustenta minha fé. As respostas que eu mesma encontrei me fizeram ver um Deus maravilhoso. Um Deus conosco.

O Natal é bonito porque nele Deus é menino. O meu Deus também é menino, embora algumas vezes seja pai, em outras seja uma luz e em alguns casos seja até um vazio. Meu “Deus é leve e ri”, como o de Rubem Alves. Meus Deus não castiga. O que torna a minha fé viável, e a minha própria vida viável é o fato de saber que meus problemas não são uma provação divina, nem um castigo. São simplesmente problemas que surgem dessa teia social que a própria humanidade teceu, que não é lógica e tem muitas falhas, como todo ser humano. Mas que também é o que nós mantém seres pensantes e capazes de amar. Assim acabei me convencendo que se eu viver esperando uma espécie de recompensa ou justiça dos céus nunca vou ser feliz. Gosto muito de um trecho do livro A Cabana em que Deus fala assim “Eu crio um bem incrível a partir de tragédias indescritíveis, mas isso não significa que as orquestre. Nunca pense que o fato de eu usar algo para um bem maior significa que eu o provoquei ou que preciso dele para realizar meus propósitos. Essa crença só vai levá-lo a ideias falsas a meu respeito. A graça não depende da existência do sofrimento, mas onde há sofrimento você encontrará a graça de inúmeras maneiras”. 

O meu Deus tira graça do sofrimento. O meu sofrimento é suportável, não porque espero que depois dele eu receba a recompensa divina, mas porque estar na Terra é sofrer também: o milagre já aconteceu, minha própria existência é o bem maior que todo o resto. Ser já é suficiente. 

Mas mesmo assim eu peço a Deus que solucione, que resolva, que me ajude por favor, por favor, por favor. Eu choro, acendo velas, faço orações, porque acho que todo ritual de fé é também um estar em mim. Então ele me ajuda. Porque Deus mora em mim. “Namastê: o Deus que mora em mim saúda o Deus que mora em você”. E, criada essa intimidade, eu peço perdão. Pelas coisas que eu acho erradas, que se resumem basicamente em afetar negativamente a vida de alguém. Peço desculpas, sabendo que vou errar de novo. Mas o perdão Dele, inegável, automático e total, me ajuda a me tornar uma pessoa melhor.

E então eu agradeço. Agradeço muito. Mas agradeço pouco por tanta graça. Pedindo ajuda, pedindo perdão e agradecendo, eu me entendo com Deus, que é o que nasceu na manjedoura e também o que é a chuva e o sol. Me entendo com o meu Deus e fico imensamente feliz por acreditar. E por meio dessa fé crio caminhos mais bonitos para o prático e o científico e me aproprio de coisas realmente importantes na era da vida de plástico e chumbo. E comemoro o Natal, como mais um momento de renovar a minha fé e o próprio mundo. 

Postado por: Marcela
 

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